Em entrevista à Agência Brasil, Eduardo Kobra informou que o trabalho que realiza tem muita relação com a valorização da história. “Eu falo muito sobre personalidades importantes, relevantes para a história, sobre memória também. Porque como a arte de rua tem diálogo com os jovens, eu procuro, através do meu trabalho, sempre trazer alguma mensagem, algo relevante de alguma personalidade ou de alguém anônimo, mas que tenha um trabalho relevante também em uma comunidade, na periferia”. Migrantes, refugiados são tema dos murais de Eduardo Kobra. “Meu trabalho está sempre pautado em um tipo de mensagem e eu fiquei muito entusiasmado com essa opção de homenagear o poeta mineiro Drummond”.
No mural, o artista está transformando o prédio como se fosse um bloco de anotações do Drummond, com uma poesia dele. “Nessa poesia, a gente também vai ter uma parte em que aparece o rosto do Drummond e um detalhe evidenciando até a silhueta do mapa da cidade”. Como o prédio é muito alto e estreito, Kobra teve que fazer uma série de desenhos para encontrar a melhor imagem para aquele formato. Ele pretende trabalhar todos os dias, inclusive à noite, aproveitando o clima bom na cidade, para entregar o mural de Drummond concluído até o final desta semana. “Para mim, é um privilégio, uma honra poder ocupar um lugar importantíssimo que recebe visitantes do Brasil inteiro no museu para conhecer a história dele. É muito interessante mesmo trazer um pouco da história, através dos murais, que é um dos propósitos da minha obra”, concluiu.
A Mostra de Arte Pública foi pensada como um festival de arte urbana para cidades do interior. “Porque arte urbana, hoje em dia, é muito popular nas capitais e grandes centros urbanos, e a gente também quer levar esse tipo de festival para as cidades do interior, para ajudar a colocar essas cidades no mapa da arte mundial, para chamar a atenção para a cultura do interior”, disse à Agência Brasil a curadora da Mostra, Juliana Flores. A mostra seguirá até o próximo dia 15.
Juliana comentou que após a pandemia da covid-19, muita gente decidiu fazer a migração para municípios do interior, mais pacatos. “Então, a gente criou essa mostra de arte para o interior de Minas e do Brasil. A primeira edição acontece em Itabira, na terra do poeta Carlos Drummond de Andrade”. A programação pode ser acessada no site.
Há cinco pinturas de murais em cena, sendo uma delas feita por um coletivo de artistas de Itabira, selecionados em chamada pública que recebeu cerca de 30 inscrições. A ideia do edital era mapear os artistas do município e orientá-los nessa primeira pintura, uma vez que a cidade não tinha a tradição da arte urbana e do grafismo. “O pessoal falava que Itabira não tinha nenhum artista urbano. E a gente receber quase 30 foi um bom número”, celebrou Juliana Flores. Participam ainda artistas renomados como Zéh Palito, Mag Magrela e o convidado italiano Millo (foto de destaque), além de Eduardo Kobra.
Há também algumas instalações. Está sendo feita uma escultura gigante permanente pela grafiteira Raquel Bolinho, nascida em Itabira, com 3,5 metros de altura, que homenageia Carlos Drummond de Andrade menino. Outra instalação também presta homenagem ao poeta itabirano, de autoria do pintor mineiro Carlos Bracher, que traz em grandes formatos as ilustrações que ele fez para o livro de Drummond intitulado Canto Mineral. “Talvez seja o livro mais mineiro dele, fala muito de Minas, da nossa geografia, do sentimento do mineiro. As instalações homenageiam o poeta, a obra dele por Kobra também, e os outros murais falam da Itabira contemporânea, da cultura de hoje local”, destacou a curadora.
Nessa terça-feira (10), está prevista palestra de Eduardo Kobra sobre o grafite, o muralismo e a arte urbana. O encontro do muralista com o público acontecerá às 19h30, no teatro da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA), localizado na região central de Itabira.
Ao todo, são sete obras entregues à população da cidade, além de uma intervenção com videomapping com a bicicleta, que percorrerá todo o circuito da primeira Mostra de Arte Pública. “Vai pedalando e projetando pela cidade”, disse Juliana. O festival MAPA Itabira é realizado pela prefeitura de Itabira e pela Associação Cultural Casinha, com produção e curadoria da Pública Agência de Arte e parceria do Consulado da Itália em Minas Gerais.
Juliana Flores salientou o apoio da prefeitura municipal. “A prefeitura de Itabira quer muito transformar Itabira em uma cidade cultural. Porque a cidade é marcada, em sua história, pela atividade da mineração. Todo mundo conhece Itabira por essa atividade. Até os poemas de Drummond falam dessa dor entre as montanhas. Agora, a cidade busca ressignificar sua história e seu futuro para além da atividade de mineração. E um dos caminhos é a economia criativa, é desenvolver o segmento cultural da cidade. Existe um investimento muito grande na economia criativa não só para os festivais de arte, mas outros festivais”, apontou a curadora.
Segundo Juliana, o interessante desse primeiro festival é deixar um legado de obras permanentes na cidade, no dia a dia das pessoas, destacando a potencialidade e as belezas locais.
Juliana Flores informou que o entorno de Itabira é formado por uma natureza exuberante, tem tradição de ecoturismo nos seus distritos, “mas ninguém para em Itabira”. Daí o interesse para que os visitantes desses locais também queiram parar em Itabira e ver a grande coleção de arte pública que está sendo entregue aos moradores. “Nosso interesse é, realmente, transformar Itabira em um museu de arte a céu aberto”.
Com informação da Agência Brasil