“Acho que, neste momento, ainda é cedo para mediação porque a maneira com que o Hamas começou a guerra [contra] Israel ainda não terminou e vai terminar quando nós obtivermos as metas que temos que cumprir”, afirmou.
Questionado se o cerco a Gaza e o intenso bombardeio não podem causar a morte de muitos civis, o embaixador Zonshine respondeu que o Hamas faz os lançamentos de foguetes de áreas residenciais.
“O povo palestino, que é refém nas mãos do Hamas, infelizmente vai pagar parte desse preço da brutalidade e da agressividade das opções do Hamas, infelizmente. A ideia de Israel não é atacar civis, ao contrário do método de Hamas. A ideia deles é atacar e matar civis”, acentuou.
Sobre a posição e as ações do governo brasileiro em relação ao conflito, o diplomata israelense afirmou que a expectativa dele é que o Brasil “vai mostrar solidariedade, mas também uma palavra clara de condenação ao terrorismo do lado do Hamas”.
O diplomata acrescentou esperar que a guerra modifique para sempre as relações entre a Faixa de Gaza e Israel. “A era de agressões entre Gaza e Israel não vai continuar como era antes”, concluiu.
Confira, a seguir, a entrevista na qual o representante do governo de Israel no Brasil fala das dificuldades para viver em paz com os vizinhos, da não consolidação do Estado da Palestina 75 anos após a criação do Estado de Israel e das acusações de que Israel pratica um regime de apartheid contra os palestinos.
Agência Brasil: Como o governo de Israel analisa o posicionamento e as ações do governo do Brasil, até o momento, em relação ao conflito?
Daniel Zohar Zonshine: Nós estamos em contato com o governo brasileiro e a expectativa é que o governo brasileiro vai mostrar solidariedade, mas também uma palavra clara de condenação ao terrorismo do lado do Hamas. Os dias passam e isso é tempo para mostrar de maneira bem clara a posição do governo do ponto de vista humano e de interesse humano e límpida.
Agência Brasil: Como o Brasil poderia ajudar para mediar esse conflito uma vez que o país está como presidente do Conselho de Segurança da ONU?
Zonshine: Acho que, neste momento, ainda é cedo para mediação, porque a maneira como o Hamas começou a guerra [contra] Israel ainda não terminou e vai terminar quando nós obtivermos as metas que temos que cumprir. Agora, depois vamos começar com uma mediação para ver de que maneira podemos continuar. Mas as coisas que tiveram antes não vão continuar, nem a possibilidade de o Hamas continuar a atacar Israel. Hamas vai pagar um preço. A sociedade israelense é uma sociedade forte e vai se recuperar. Israel vai se recuperar desse choque que recebeu. Só depois disso é que podemos falar de mediação.
Agência Brasil: A reação ao ataque do Hamas adotada por Israel com bloqueio completo de Gaza e o intenso bombardeio aéreo numa região tão densamente povoada não podem levar a um número muito alto de baixas civis? O que Israel tem feito para reduzir essas baixas de civis?
Zonshine: Essa guerra não é uma guerra que nós começamos, não é uma guerra que nós queremos. Quem começou essa guerra tem que levar resultados não só do lado israelense, também do lado deles. Não pode ser que, depois desse ataque do Hamas, nós vamos sentar em casa e o Hamas vai continuar a fazer o que ele está fazendo. Nós lamentamos esse assunto e o fato é que o Hamas vem atuando por dentro de áreas povoadas, áreas residenciais, lançando foguetes contra Israel. O povo palestino, que ficou refém nas mãos do Hamas, infelizmente vai pagar parte desse preço da brutalidade e da agressividade das opções do Hamas, infelizmente. A ideia de Israel não é atacar civis, ao contrário do método de Hamas, a ideia deles é atacar e matar civis. Estamos numa guerra e nessa guerra, infelizmente, [haverá] mais vítimas dos dois lados.
Agência Brasil: A maior parte da comunidade internacional, incluindo o Brasil, defende que a saída para as hostilidades seria a consolidação de um Estado palestino economicamente viável. Por que essa saída ainda não foi possível após 75 anos da criação do Estado de Israel?
Zonshine: Esta é uma pergunta que tem que [se] fazer não só com a situação desses dias. Tenho certeza que tem solução que todo mundo vai gostar, todo mundo dos dois lados, para, pelo menos, chegar a uma situação de convivência. Convivência para que os dois lados possam viver lado a lado, em paz, desenvolver a vida, economia, desenvolver educação, educação para uma vida melhor para os dois lados. Lá, a educação é de ódio contra os outros. Desde o início do Estado de Israel, a ideia de Israel é viver em paz com seus vizinhos. Quero mencionar que, em 2005, Israel saiu completamente da Faixa de Gaza e o Hamas, que está dominando lá quase desde esse tempo, escolheu investir os recursos para destroçar Israel. O dinheiro que eles recebem vai para atacar Israel e não para construir escolas e hospitais. Nos últimos dias, a União Europeia parou o financiamento que deu para livros de educação na Faixa de Gaza porque os livros lá têm criação de ódio contra Israel. Isso não é uma coisa que pode continuar. Israel e outras entidades não podem aceitar. Acredito que tem que diferenciar o Hamas do povo palestino. Hamas não representa o povo palestino. Hamas é uma organização terrorista e o povo palestino merece uma coisa melhor do que isso. Israel não tem nada contra o povo palestino, mas só contra o grupo terrorista do Hamas que está dominando a Faixa de Gaza.
Agência Brasil: Muitos críticos à política de Israel para com a Palestina, que incluem organizações de direitos humanos como Anistia Internacional e Human Rights Watch, alegam que o tratamento de Israel para o povo palestino configura um regime de Apartheid e que isso seria um combustível para manutenção dessas hostilidades. Como que Israel tem encarado essa questão e por que não ocorre a desocupação dos territórios que a Resolução 181 da ONU sugere que fiquem sob controle da Palestina?
Zonshine: Tem que diferenciar a Faixa de Gaza da Cisjordânia. Em 2005, Israel saiu completamente da Faixa de Gaza e deixou os palestinos lá para manejar as vidas deles. E, pelo contrário, Israel ainda está abastecendo água, abastecendo eletricidade e outras coisas e tem um crédito, um tipo sistema econômico entre os dois. A escolha do Hamas de atacar Israel não melhorou a vida deles e é uma coisa muito lamentável. Agora, na Cisjordânia temos outra situação, temos lá uma cooperação com a Autoridade Palestina. Mas também temos lá coisas que devem ser melhoradas. Temos que negociar com a Autoridade Palestina, que representa o povo palestino, mas lá tem os extremistas que fazem as coisas serem mais difíceis. Mas o fato é que Israel está abastecendo Gaza com eletricidade e água e recebe de lá foguetes. Isso é uma coisa que não pode continuar e não podemos aceitar. A ideia de Israel não é o sofrimento das pessoas de Gaza, mas as responsabilidades do Hamas, que domina a faixa de Gaza, para melhorar a vida das pessoas de lá e não só destruir. Não pode deixar toda a responsabilidade sobre Israel, há mais responsabilidades que o mundo tem que entender que não é só Israel que domina.
Agência Brasil: Como que o governo de Israel espera que esse conflito termine? Qual seria uma boa resolução para esse conflito?
Zonshine: A situação, que começou no sábado, não pode terminar como era antes. A era de agressões entre Gaza e Israel não vai continuar como era antes. Infelizmente, não era nosso objetivo, mas não podemos aceitar esse tipo de ataque e o Hamas vai pagar um preço pesado pela agressividade e atrocidades que fez contra Israel. Israel deve proteger e vai proteger seus cidadãos e vai reconstruir, vai voltar a vida e plantar árvores em troca das árvores que foram queimadas pelo Hamas. Vai reconstruir o que foi destruído pelo Hamas. No Oriente Médio, não podemos mostrar fraqueza. E se o Hamas vai pensar que, com essa agressividade e atrocidade ele pode ganhar alguma coisa, ele perdeu nesse sentido.