17/12/2023 às 15h48min - Atualizada em 18/12/2023 às 00h00min

Ex-moradores de bairros desativados revelam sentimentos em mensagens

Sinais da tragédia anunciada começaram em 2018, após fortes de chuvas de verão em fevereiro daquele ano e quando um tremor de terra foi sentido em alguns bairros de Maceió.

Agência Brasil
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-12/ex-moradores-de-bairros-desativados-revelam-sentimentos-em-mensagens




Circular pelos bairros que foram desativados em Maceió é um misto de tristeza e angústia. As casas que antes abrigavam famílias inteiras, têm somente a vegetação como residente agora - trepadeiras de folhas muito verdes que nascem das rachaduras e cobrem muros, paredes, placas e revestimentos.



Os sinais da tragédia anunciada começaram em 2018, após fortes de chuvas de verão em fevereiro daquele ano e quando um tremor de terra foi sentido em alguns bairros de Maceió. As primeiras fissuras foram identificadas em residências e vias públicas do Pinheiro, mas como já se sabe, não seria um caso isolado.



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Um estudo realizado pelo Serviço Geológico do Brasil, ligado ao governo federal, investigou as causas da movimentação do solo em parte de Maceió, onde havia a exploração, há mais de 40 anos, de sal-gema no subsolo.



Em 2019, os que viviam nos bairros em torno da Laguna Mundaú, começaram a ser removidos da região por conta do risco de desabamento - literalmente sob os pés da população. Desde então, o risco de afundamento do solo incluiu Mutange, Pinheiro, Bom Parto, Bebedouro e Farol. Este último, parcialmente afetado, mas o suficiente para obrigar que o único hospital psiquiátrico público de Alagoas a mudar de local.




Maceió (AL) 16/12/2023 – Os esquecidos pela Braskem – Joicye Evaristo mostra uma parede em sua residência rachada devido ao rompimento da mina n°18 da mineradora Baskem na lagoa de Mundaú, no bairro Flexal de Baixo.<br /> Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Maceió (AL) 16/12/2023 – Os esquecidos pela Braskem – Joicye Evaristo mostra uma parede em sua residência rachada devido ao rompimento da mina n°18 da mineradora Baskem na lagoa de Mundaú, no bairro Flexal de Baixo.
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil






Joicye Evaristo mostra uma parede em sua residência rachada devido ao rompimento da mina n°18 da mineradora Baskem - Foto: Joédson Alves/Agência Brasil



Nas zonas afetadas, impressão é de que os antigos moradores levaram o que deu. É comum ver que janelas e esquadrias foram arrancadas, tal como o sonho e os investimentos de uma vida de quase 60 mil moradores e comerciantes que tiveram de abandonar suas residências e comércios em cinco bairros condenados à extinção pela atividade de mineração.



A atmosfera das ruas bairros é pesada, como se houvesse um vácuo entre a vida que se costumava ter ali, com sons e vozes, carros passando, crianças brincando, pessoas circulando, e o que se tem agora, um cenário perfeito e real de abandono que parece ter saído de filmes de terror.



Casas e prédios inteiros cercados por tapumes de zinco, portas e janelas seladas por tijolos e cimento, paredes marcadas em vermelhos, com placas da Defesa Civil afixadas, indicando que o imóvel está condenado, deixam claro que aquelas residências, que por muitos anos significaram conforto e segurança para as famílias, agora só oferecem perigo e risco. O cenário se soma às sinalizações de rota de fuga, espalhadas pela região e que dão a sensação a quem passa por ali de ser um clandestino.



Mas, embora esses cinco bairros tenham sido sentenciados a se tornarem obsoletos e desertos, por conta da exploração de minério realizado pela Braskem em 35 minas, ainda é possível ver e ouvir a voz desses milhares de desabrigados como num brado de resistência, nos muros, nas calçadas, no asfalto. Mensagens deixadas pelos moradores compartilham um misto de dor, revolta, tristeza e saudade do lugar que um dia chamaram de lar.




Maceió (AL) 16/12/2023 – Os esquecidos pela Braskem – Vista de casas no bairro Flexal de Baixo, nas proximidades da mina n°18 da mineradora Baskem na lagoa de Mundaú.<br /> Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Maceió (AL) 16/12/2023 – Os esquecidos pela Braskem – Vista de casas no bairro Flexal de Baixo, nas proximidades da mina n°18 da mineradora Baskem na lagoa de Mundaú.
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil






Vista de casas no Bairro Flexal de Baixo, nas proximidades da mina n°18 da mineradora Baskem - Foto: Joédson Alves/Agência Brasil



Monitoramento



Após a conclusão dos estudos por parte do Serviço Geológico do Brasil, em 2019, as atividades de exploração do sal-gema foram paralisadas. No mesmo ano, foram implementadas as ações emergenciais no Pinheiro e a instalação de um serviço de monitoramento, sob a coordenação da Defesa Civil de Maceió.



Desde então, o monitoramento da região que apresenta afundamento de solo e também das minas é feito diariamente e de forma ininterrupta.



Recentemente, com o colapso de parte da mina 18, na Laguna Mundaú, um dos equipamentos foi perdido. No entanto, segundo a Defesa Civil, o acompanhamento das áreas foi adaptado para continuar sendo feito.



Em nota, a instituição afirmou que um novo equipamento já foi providenciado e instalado e que em cerca de 10 dias estará apto para medir a movimentação do solo de forma precisa. Enquanto isso, o local está sendo monitorado pelos demais instrumentos de medição.




Maceió (AL) 17/12/2023 – Moradores deixam frases em suas casas após serem desalojados, nas proximidades da mina n°18 da mineradora Braskem na lagoa de Mundaú.<br /> Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Maceió (AL) 17/12/2023 – Moradores deixam frases em suas casas após serem desalojados, nas proximidades da mina n°18 da mineradora Braskem na lagoa de Mundaú.
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil






Moradores deixam frases em suas casas após serem desalojados, nas proximidades da mina n°18 da mineradora Braskem na lagoa de Mundaú - Foto: Joédson Alves/Agência Brasil




Acordos



Desde 2019, foram fechados cinco acordos de reparação e indenização entre a mineradora Braskem e a Prefeitura de Maceió. Esses acordos, no entanto, estão sendo questionados na Justiça.



A Procuradoria-Geral do Estado de Alagoas entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal para questionar algumas cláusulas dos pactos fechados entre 2019 e 2022. A arguição de Descumprimento de Preceitos Fundamentais, a ADPF, quer garantir que a mineradora seja punida pelos crimes ambientais.



Mas, de acordo com a procuradoria, a forma como o pacto foi firmado, beneficia e traz ganhos financeiros à Braskem, já que futuramente ela terá direito à titularidade à exploração econômica de toda a área que foi desapropriada por causa dos impactos da extração do minério sal-gema.




Maceió (AL) 16/12/2023 – Os esquecidos pela Braskem –Um pescador faz reparos em sua rede de pescar nas proximidades da mina n°18 da mineradora Baskem na lagoa de Mundaú.<br /> Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Maceió (AL) 16/12/2023 – Os esquecidos pela Braskem –Um pescador faz reparos em sua rede de pescar nas proximidades da mina n°18 da mineradora Baskem na lagoa de Mundaú.
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil






Pescador faz reparos em sua rede de pescar nas proximidades da mina n°18 da mineradora Baskem na lagoa de Mundaú - Foto: Joédson Alves/Agência Brasil




A procuradoria pede ainda que sejam declaradas inconstitucionais as cláusulas que deram a quitação irrestrita à Braskem e que autorizam a transferência da titularidade de imóveis públicos e particulares à mineradora como medida compensatória de eventual indenização paga às vítimas.



Em nota, a Braskem disse que firmou cinco acordos com autoridades federais, estaduais e municipal que estão sendo cumpridos integralmente. A mineradora disse ainda que todos eles foram fruto de ampla discussão, baseados em dados técnicos, têm respaldo legal e foram homologados na Justiça. E que vai se manifestar somente nos autos do processo quando for notificada.



Com informação da Agência Brasil



Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-12/ex-moradores-de-bairros-desativados-revelam-sentimentos-em-mensagens
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