18/12/2023 às 13h12min - Atualizada em 19/12/2023 às 00h00min
Familiares protestam antes de audiência sobre massacre de Paraisópolis
Segunda audiência começa hoje à tarde, no Fórum Criminal da Barra Funda. São julgados 12 policiais militares acusados de matar nove jovens em operação realizada durante baile funk na favela de Paraisópolis, em 2019.
Familiares das nove vítimas do Massacre de Paraisópolis, de 2019, e movimentos sociais realizaram hoje (18) um protesto horas antes da retomada do julgamento do caso. A segunda audiência de instrução será realizada à tarde, no Fórum Criminal da Barra Funda e deve ouvir, entre as 25 testemunhas de acusação e as cinco de defesa, o Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
São julgados 12 policiais militares acusados de matar nove jovens em operação realizada durante o Baile da DZ7, de funk, na favela de Paraisópolis. Ocorrido na noite de 1º de dezembro de 2019, o episódio ficou conhecido como Massacre de Paraisópolis. O que se decide na corte é se irão a júri popular.
Os manifestantes fizeram uma performance para simular como os jovens foram cercados pelos agentes na operação. O objetivo foi demonstrar como houve excessos e que as imagens que revelaram momentos em que os policiais encurralaram as vítimas em uma viela são uma prova disso.
São Paulo (SP), 18/12/2023 - Maria Cristina Quirino, mãe de Denys Henrique Quirino, fala durante a manifestação dos famíliares dos nove jovens vítimas do Massacre de Paraisópolis em frente ao Fórum Criminal da Barra Funda. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Maria Cristina Quirino, mãe de Denys Henrique Quirino, fala durante a manifestação dos famíliares dos nove jovens vítimas do massacre. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Cristina Quirino, mãe de uma das vítimas, discursou durante a manifestação, afirmando que a polícia deveria acabar, diante da repetição de uma conduta que configura constantemente abusos de autoridade e atos de racismo.
Conforme Cristina lembrou e relatório da Defensoria Pública de São Paulo mencionou, a favela de Paraisópolis já era alvo dos policiais antes mesmo de a tragédia durante o Baile da DZ7. Houve indícios, citados pelo órgão, em relatório, de que a corporação já planejava usar a violência em abordagens na comunidade.
"Eles [os jovens assassinados] trabalhavam, estudavam. Até o Gustavo, de 14 anos, já trabalhava", disse ela. "Estão criminalizando nossos filhos. Essa polícia nem tinha que existir mais porque só forja prisões."
Ex-egressa do sistema prisional, Helen Baum diz que o que lhe aconteceu, de ser condenada injustamente, por tráfico de drogas, enquanto era usuária na Cracolândia, está conectado à letalidade policial que vitima negros e pobres no país. Para ela, é uma mesma faceta da violência praticada sistematicamente pela corporação.
São Paulo (SP), 18/12/2023 - Helen Baun, integrante do coletivo Memórias do Carandiru e especialista em direito penal, participa da manifestação dos famíliares dos nove jovens vítimas do Massacre de Paraisópolis em frente ao Fórum Criminal da Barra Funda. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Helen Baun, integrante do coletivo Memórias do Carandiru e especialista em direito penal, participa da manifestação. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
"Nesse caso, a gente tem que falar de letalidade policial e seletividade penal também, porque a mão forte do Estado atravessa os corpos das pessoas negras, periféricas. Vemos isso desde a época da escravidão e da ditadura. Se a gente não pagar para que essas pessoas paguem do mesmo jeito que nós pagamos, elas vão continuar cometendo massacres. Nosso país tem um histórico de massacres", disse.
Ao deixar o sistema carcerário, Helen Baun se tornou integrante do coletivo Memórias do Carandiru e da Primeira Frente Sobreviventes do Cárcere e especializada em Direito Penal, além de mestranda em Ciências Humanas e Sociais, pela Universidade Federal do ABC (UFABC).
Outro manifestante, o sobrevivente da Casa de Detenção de São Paulo, Maurício Monteiro, faz avaliação semelhante. "Esses policiais são os filhos, os netos, têm como heróis aqueles policiais [da unidade prisional onde ficou detido] que não foram presos, porque acreditaram em impunidade. E nosso Estado está apoiando", opina.
São Paulo (SP), 18/12/2023 - Dimitri Sales, presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo - Condepe, participa da manifestação dos famíliares dos nove jovens vítimas do Massacre de Paraisópolis em frente ao Fórum Criminal da Barra Funda. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
São Paulo (SP), 18/12/2023 - Dimitri Sales, do Condepe, na manifestação dos famíliares dos nove jovens vítimas do Massacre de Paraisópolis. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
"Essa audiência de hoje é da maior importância, porque são os familiares que vão contar quem eram seus parentes mortos, a história de cada jovem que estava lá para de divertir. O momento em que as vítimas terão voz por meio de seus familiares", ressaltou o presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo (Condepe), Dimitri Sales.