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11/01/2024 às 12h00min - Atualizada em 11/01/2024 às 12h00min

Laudo comprova que miss trans sofreu violência sexual em Goiás

Jovem denunciou delegado por estupro. Exame atesta que houve relação íntima agressiva, provocando lesão profunda e sangramento

A ex-miss trans Jade Fernandes, de 23 anos, que denunciou ter sido estuprada pelo delegado da Polícia Civil de Goiás (PCGO), Kleyton Manoel Dias, após saírem de uma festa, na capital goiana, teve a violência sexual comprovada por meio de um laudo. O exame pericial atesta que ela sofreu violência sexual e teve uma lesão profunda.

O laudo, obtido pela TV Anhanguera, aponta ainda que a jovem teve sangramento contínuo por vários dias. O documento foi encaminhado para a Polícia Civil de Goiás, que aguarda o resultado de uma perícia no carro do delegado, onde a vítima teria sofrido o abuso.

Um outro exame também foi realizado com o objetivo de saber se a vítima foi dopada pelo suspeito.

Por meio de nota, o delegado negou o crime. Dias disse que repudia as acusações e que se coloca à disposição das autoridades na investigação do caso. Kleyton também disse que “irá provar sua inocência” e que está “muito abalado com o ocorrido”.

 

“Boneca”

De acordo com Jade, ela estava em uma boate de Goiânia, na última sexta-feira (5/1), onde comemorava o aniversário de um jornalista que é amigo dela, quando conheceu o delegado, que também era convidado da festa. Ao final, ela, o investigador e uma outra mulher combinaram de ir para outro local.

Um vídeo mostra o delegado e a miss deixando a boate, antes do estupro denunciado por ela acontecer. Nas imagens, os dois conversam dentro do estabelecimento e dão um beijo ao se dirigirem ao caixa. A outra mulher estava ao lado presenciando tudo.

Segundo Jade, Kleyton ofereceu carona até o novo estabelecimento. Dentro do carro, a mulher perguntou à Jade se ela era uma mulher ou um homem e ela teria respondido que era “boneca”.

Depois da resposta, ela afirmou que houve uma mudança de comportamento do delegado, que decidiu cancelar a continuidade da noite e se ofereceu para deixar as duas mulheres em casa.

A outra mulher foi deixada no bairro Jardim Novo Mundo. Depois, o delegado seguiu em direção à casa de Jade, no Setor Jaó. A vítima disse que não se lembra de todo o trajeto, no entanto, aponta que, em determinado momento, o delegado parou o carro em um local escuro e pouco movimentado e perguntou sobre o que fariam e ela afirma ter dito que iria para casa.

“Ele colocou o órgão genital para fora e pediu pra gente fazer alguma coisa [de cunho sexual]. Eu insisti que não queria e, a partir daí, ele começou a ficar um pouco mais agressivo”, lembrou a jovem.

Segundo a vítima, foi nesse momento que o delegado passou a forçá-la a praticar sexo com ele. De acordo com a miss, mesmo com as negativas dela, Kleyton a levou até o porta-malas do carro, onde praticou o estupro. Jade continuou dentro do porta-malas do carro, até o delegado parar em frente à casa dela.

“A partir do momento que eu não tenho interesse, que eu me nego a me deitar com homem, e ele força, eu acredito que seja estrupo. Ninguém tem uma relação sexual e joga a outra pessoa no porta-malas do carro ensanguentada”, desabafou a vítima.

Uma câmera de segurança registrou quando a jovem saiu do veículo completamente nua. Pelas imagens é possível notar que ela esconde as partes íntimas com os sapatos. Minutos depois, o delegado retorna ao local e deixa o vestido de Jade na porta do imóvel.

Ferimentos na miss, depois apontados por laudo

À emissora, o amigo que mora com Jade, Ricardo Amaral Dias, contou que ela chegou em casa dopada e bastante ferida. Ele chamou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e a vítima foi levada para um hospital, onde recebeu atendimento médico.

“Não consigo dormir. Tem uns três dias que eu não durmo, nem tomando medicamento. Continuo sangrando, machucada. Estou tomando analgésico”, disse.

Ainda segundo Jade, essa não foi a primeira vez que sofreu um estupro, no entanto, decidiu fazer a denúncia.

“A mulher que eu me tornei foi para ter uma voz muito maior do que qualquer outra coisa […] não podia me deixar passar mais por qualquer tipo de preconceito ou violência. Outras mulheres e tantas outras mulheres transexuais passam por isso e têm medo de retaliação, mas agora chega. A gente está cansada”, lamentou.
 

Medida protetiva

Mesmo antes do resultado do laudo, Jade conseguiu uma medida protetiva contra o delegado Kleyton Manoel. A medida foi concedida pelo juiz plantonista Thiago Soares Castelliano Lucena de Castro.

No documento emitido pelo TJGO, o juiz determinou que o delegado permaneça a uma distância mínima de 300 metros de Jade e de seus familiares, sem qualquer tentativa de aproximação; não entre em contato com ela ou seus familiares por qualquer meio de comunicação (telefone, WhatsApp, e-mail e outros) e não frequente os mesmos locais.

Ainda durante a coletiva, a defesa de Jade disse já estar sofrendo retaliações, porém, não deu mais detalhes.

Afastamento

Kleyton Manoel Dias foi afastado de suas funções e passou a atuar em uma unidade administrativa. Segundo a Polícia Civil de Goiás (PCGO), assim que tomou conhecimento do caso, a corporação adotou todas as medidas necessárias para o esclarecimento da situação.

 

 
 

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