Nesta quinta-feira (21), estreia o primeiro filme produzido em Goiás estrelado por uma atriz com T21 (Síndrome de Down), no Shopping Bougainville. No Dia Internacional da Síndrome de Down, goianos poderão apreciar o trabalho de Rafa Delgado, que, no papel de Laura, conta histórias da própria trajetória.
O curta-metragem “Ninguém disse que seria fácil” relata a experiência de uma atriz com Tricossomia 21 que luta para ser aprovada em um teste de elenco para uma peça teatral. Após recusa do diretor, que perde apoio por falas capacitistas, Laura propõe um trabalho em conjunto.
O projeto já recebeu apoio de grandes nomes nacionais como Thiago Lacerda e Caio Castro.
Assim, a história bebe da fonte da própria vida de Rafa, com roteiro de Luciano Caldas, que trabalha com a protagonista há quatro anos. Segundo a atriz, a diferença entre ela e o papel se baseia na mudança de nome. “Ela é dedicada, tem foco e disciplina. Esse filme vai mostrar a minha história”.
Aos 26 anos, a atriz goiana já atuou em comerciais de grandes marcas, novela, filmes premiados e séries em grandes plataformas, como a HBO.
No entanto, a jornada tampouco foi fácil e, segundo ela, ainda há muito o que conquistar. “Eu sempre sonhei em ser atriz. Um dia, minha mãe pediu que eu fizesse um doce e, quando meu braço cansou, eu disse que seria ser atriz. Desde então, comecei a fazer cursos no Rio de Janeiro e São Paulo”, relatou ao Portal 6.
Diversas noites se passaram com Rafa e a mãe, Patrícia Delgado, realizando viagens interestaduais de ônibus até São Paulo (SP). Pela manhã, a ainda aspirante descia do veículo, se arrumava no banheiro da instituição de ensino e então realizava as aulas.
Por diversas vezes, antes mesmo de iniciar as atividades e testes, a atriz já era descartada. “Mas, eu decorava os textos e quando começava a falar, o queixo deles caíam”, relembra. Ao final, voltava para Goiânia, e assim fez repetidamente.
“Eu estava quase desistindo, mas via a felicidade nela. Ela realmente queria ser atriz. Foi ela que não me deixou desistir”, disse Patrícia à reportagem. Apesar das dificuldades, tanto Rafa quanto a mãe reconheciam a necessidade de persistir uma vez que, se já era difícil no eixo Rio-São Paulo, o cenário goiano era praticamente impossível.
“Até hoje, quase não tem oportunidades”, reforçou a mãe. Segundo ela, um trabalho de propaganda em São Paulo (SP) paga um cachê de R$ 4 a R$ 7 mil. Em Goiânia, nas poucas vezes em que há trabalho, o pagamento é em torno de R$ 150.
A escolha de continuar trabalhando em Goiás se baseia na vontade de incitar a mudança. O filme surge com este objetivo, inicialmente distribuído em Goiânia e com planos de exibição nacional posteriormente.
Segundo Patrícia, após a estreia, que contará com a presença de diversas escolas e diretores, Rafa pretende realizar palestras sobre a vida com Síndrome de Down, principalmente em ambientes educacionais.
“Temos que começar no nosso estado, nas nossas escolas. Só vai mudar essa visão capacitista quando começar a educar os pequenos, os adolescentes e os jovens”, defendeu Patrícia.