A plataforma, desenvolvida pelo WWF-Brasil com a MapBiomas, registrou que, em 12 desses lagos da região amazônica, a temperatura acumulada até agosto ultrapassa a de 2023, quando botos das espécies cor-de-rosa e tucuxi morreram após as águas dos lagos Tefé e Coari atingirem 40 graus Celsius (°C), no fim do mês de setembro.
A parir da plataforma, alterações similares puderam ser observadas em outros 22 lagos com a mesma hidrogeomorfologia, ou seja, em corpos de água que apresentam características físicas similares. “São lagos que a gente chama de lagos de ria. São mais compridos, normalmente vêm de um tributário, um rio pequeno afluente do Solimões ou de outros grandes rios, que saem de dentro da floresta e desembocam primeiro em um lago mais comprido e lá na frente, quando vai desembocar no Rio Solimões, ele tem um pequeno canal. E é nesse pequeno canal que se fazem essa conexão e esse ciclo de nutrientes, de água e de temperatura”, explica Mariana Paschoalini Frias, analista de conservação do WWF-Brasil.
Tais características também deixam os corpos de água vulneráveis às secas que têm se tornado mais extremas de forma sistemática, explica a pesquisadora. Somadas à presença das espécies impactadas anteriormente, levaram a inclusão na plataforma de mais oito lagos no Rio Trombetas, cinco do Rio Solimões (também chamado Amazonas), cinco no Rio Purus, dois no Rio Madeira, dois no Rio Paru e no Rio Negro e mais um no Rio Tapajós, além dois Lagos Tefé e Coari.
Nesses locais, a ferramenta possibilita medidas de ação em campo caso os dados gerem alertas de ameaça à fauna e flora locais pelo superaquecimento das águas. A partir dessa etapa é possível uma análise multidisciplinar pela força-tarefa, que inclui ainda pesquisadores do Instituto Mamirauá e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiverside (ICMBio).
De acordo com Mariana, essa análise considera ainda a redução da quantidade de água, a turbidez do lago e o excesso de radiação solar, que já podem impactar a vida naqueles ecossistemas. “Há um mês, o monitoramento diário dos lagos tem evidenciando que os animais já estão sob um estresse, porque estão confinados em um lago que está perdendo superfície de água muito rápido. A temperatura começou a ter uma amplitude térmica muito grande na coluna da água e não só na superfície”, explica.
De acordo com o coordenador técnico do MapBiomas Água, Juliano Schirmbeck, o monitoramento dos 23 lagos é feito a partir de dados obtidos pelos sensores Modis, do satélite Terra, e TIRS, do satélite LandSat, que, combinados, possibilitam uma combinação robusta de informações. “O LandSat tem alta resolução espacial, isto é, cada pixel da imagem equivale a uma área de 30 metros. Mas ele só passa sobre a região uma vez a cada 16 dias. Já o Modis tem resolução espacial menor e cada pixel equivale a um quilômetro. Porém, sua resolução temporal é bem mais alta: passa todos os dias.”
Até o momento, os pesquisadores concluíram que ainda não há uma relação direta de animais encontrados mortos nos lagos este ano, com a elevação da temperatura, mas os profissionais seguem em alerta na região.
“Hoje a gente consegue olhar para um fator preditivo que nos permita antecipar e programar ações de campo efetivas, mensurando a logística dos diferentes locais que a gente precisa acessar. Não é que o evento vai ocorrer em todos os lagos, mas a gente tem um sinal de alerta dizendo que em toda a distribuição potencial da espécie na Amazônia, existem lagos que compartilham uma mesma similaridade e eventos simultâneos podem ocorrer”, acrescenta Schirmbeck.
Com informação da Agência Brasil