01/04/2022 às 17h14min - Atualizada em 01/04/2022 às 17h14min

Exercício em cápsulas? cientistas estão desenvolvendo pílulas que imitam os benefícios da atividade física

Pois o que seria o sonho de muita gente está cada dia mais perto de se tornar realidade

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Poucas áreas na medicina são tão conhecidas quanto os benefícios da atividade física regular em todo o organismo humano. Do emagrecimento ao bem-estar, da prevenção de doenças à promoção de ossos mais fortes e de uma mente mais afiada.

Entretanto, nem todo mundo consegue cumprir os 150 minutos semanais de exercício aeróbico moderado, recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para que boa parte dos efeitos se concretizem. Seja por preguiça, falta de tempo ou incapacidade física.

Mas e se fosse possível obter esses benefícios sem precisar se movimentar? Pois o que seria o sonho de muita gente está cada dia mais perto de se tornar realidade.

Nos últimos cinco anos, pesquisadores de diversos laboratórios ao redor do mundo descobriram uma séria de substâncias benéficas liberadas durante ou após a prática do exercício físico, que vão desde um hormônio que queima a flacidez até uma proteína que aumenta a memória. Agora, eles buscam encapsular esses compostos.

Pílulas, a depender da substância, impactariam no ganho muscular, na queima de gordura ou no aumento da capacidade pulmonar, portanto.  

“Essa área está caminhando depressa. O exercício produz estímulos para a produção de determinados compostos que até muito pouco tempo não eram conhecidos”, diz o educador físico Gustavo Cardozo, diretor técnico-científico do Centro de Medicina do Exercício Decordis (Brasil). 

Dois dos mais recentes avanços foram feitos por pesquisadores americanos e australianos. No primeiro deles, uma equipe da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, descobriu uma pro­teí­na chamada clusterina. Esse composto anti-inflamatório é liberado em maiores quantidades quando nos exercitamos e ajuda a deixar a mente – em especial, a memória – mais afiada.

Animais que se exercitaram apresentaram níveis 20% mais altos de clusterina no sangue do que os sedentários. O trabalho foi publicado na prestigiosa revista científica Nature. 

Em outros experimentos, a clusterina foi capaz de reduzir a inflamação cerebral. No longo prazo, a inflamação crônica pode aumentar o risco de doença de Alzheimer. Ainda não se sabe se a clusterina impulsiona o cérebro humano da mesma forma que o observado em animais, mas já se sabe os níveis dessa proteína no sangue de pessoas também aumenta quando elas se exercitam.

Se o benefício se comprovar, a expectativa é conseguir desenvolver medicamentos que imitam o efeito da clusterina. 

 



Em outro estudo, publicado na revista Clinical and Experimental Ophthalmology, pesquisadores da Universidade Nacional Australiana identificaram mensageiros químicos que produzidos durante o exercício que contribuem para a redução do risco de degeneração macular relacionada à idade, a causa mais comum de perda severa de visão em adultos mais velhos.

Esses compostos incluem as proteínas IL-6, envolvida na inflamação, e BDNF, associado ao desenvolvimento e sobrevivência das células cerebrais. A partir dessa descoberta, os pesquisadores esperam produzir um medicamento que proporcione esses benefícios naturais do exercício para pessoas muito idosas ou frágeis. 

Mas há equipes trabalhando em suplementos que fornecem outros benefícios do exercício, como perda de peso e ganho de massa muscular. Cientistas do Dana-Farber Cancer Institute, em Boston, identificaram um hormônio chamado irisina, que é liberado pelos músculos durante o exercício e pode ajudar na perda de peso.

Um estudo em camundongos obesos mostrou que injeções do hormônio são capazes de converter gordura branca, a forma de armazenamento de energia responsável pela maior parte da gordura em nossos corpos, em gordura marrom, que queima calorias em vez de armazená-las. Outras pesquisas da mesma equipe associaram a irisina ao fortalecimento dos ossos, outro benefício do exercício.

Em 2020, pesquisadores da Universidade de Michigan descobriram que uma pro­teí­na chamada sestrina, gerada naturalmente pelos músculos quando eles são exigidos, está por trás de efeitos  como ganho muscular, queima de gordura e aumento da capacidade pulmonar. Inspirado nos benefícios do exercício, uma equipe da Universidade de Southampton desenvolveu um composto químico capaz de desencadear a perda de peso e reduzir os níveis de açúcar no sangue.

Pesquisadores da Universidade do Estado da Luisiana conseguiram induzir artificialmente muitos dos efeitos positivos do exercício isolando proteínas mensageiras da contração muscular e aplicando-as a diferentes tecidos e órgãos. A expectativa é que no futuro, essas mesmas proteínas possam ser entregues na forma de uma pílula.

“Em essência, seremos capazes de ‘exercitar’ as pessoas sem que elas tenham que fazer o trabalho. Isso não seria revolucionário?”, disse Christopher Axelrod, diretor do Laboratório de Fisiologia Integrativa e Medicina Molecular da Universidade do Estado da Luisiana, em comunicado.

A maioria desses estudos ainda está em fase laboratorial, em células ou animais.  Ainda não se sabe se esses resultados irão se replicar em humanos nem quando uma dessas pílulas estará disponível no mercado. Mesmo assim, não dá para negar que esse campo abre uma fascinante avenida de possibilidades. Os pesquisadores estão esperançosos, em especial no potencial dessas substâncias para idosos frágeis, pessoas que incapacitadas fisicamente e para ajudar as pessoas a começarem uma rotina de atividade física. 

Apesar do otimismo da ciência, é improvável que algum dia exista uma pílula que possa substituir completamente o exercício. Isso se deve principalmente às diferentes maneiras como o corpo responde a ele. Assim um modelo híbrido, que englobe a ingestão desses suplementos em conjunto com a prática de exercícios parece ser um vislumbre factível para o futuro. 

“Não há substituto total para o exercício. O exercício é muito mais que um efeito fisiológico. Ele gera um bem-estar pisco-físico-social extremamente benéfico para o ser humano como um todo”, diz Cardozo.

Isso significa que continua a valer o velho ditado: “no pain, no gain”, que em tradução livre significa algo como “sem dor, sem ganhos”.  A OMS recomenda agora que adultos façam 150 a 300 minutos de atividade física moderada ou 75 a 150 minutos de atividade física intensa, como caminhadas rápidas, corrida, natação e bicicleta.

A inclusão de exercícios de força, duas vezes por semana também é bem-vinda. Isso estimula o corpo de diferentes maneiras e traz benefícios adicionais à saúde.

 

 

Com informações Infoglobo

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