A Polícia Civil de Goiás apreendeu, na terça-feira (17/5), seis armas de fogo na fazenda onde trabalha o gerente que apareceu em vídeo com uma pistola ao flagrar caminhoneiro durante furto de 20 espigas de milho e humilhá-lo, na lavoura do estabelecimento, em Cabeceiras, nordeste goiano.
Um segurança foi preso no local por porte ilegal de arma de fogo. Não foi informado se o homem do vídeo foi localizado.Segundo a investigação, o gerente cometeu crime de racismo e outro previsto no estatuto do desarmamento. Por isso, a polícia deflagrou a operação e apreendeu uma pistola de nove milímetros, um revólver calibre 32 e quatro espingardas.
No vídeo, o gerente usou pejorativamente o termo “goianada”, dizendo que iria ensinar essa pessoal a não roubar milho.
O gerente excluiu o vídeo de suas redes sociais, logo depois da repercussão negativa, porque suas “atitudes preconceituosas” não foram apoiadas pelo próprio patrão dele. Depois, Fernando pediu desculpas e disse que não quis ofender os moradores de Cabeceiras nem os goianos.
O caso levantou polêmica na internet, e outro homem armado voltou ao local para fazer ameaças contra o gerente. “Olha, seu Fernando, onde estou aqui, na beira de seu milho, na beira de sua fazenda, né? Que não é sua, né, seu merda? Vou pegar três sacos de milho aqui agora. Vem me chamar de ladrão aqui”, afirmou o homem, que gravou o vídeo.
O homem armado também criticou a Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra), já que a lavoura não está cercada e, segundo moradores da região, ainda invade uma parte do acostamento, em faixa de domínio público. “Cadê a Goinfra que não vem botar você [Fernando] para fazer cerca nessa merda aqui?”, questionou ele.
O Metrópoles não obteve retorno da assessoria de imprensa da Goinfra até o momento em que publicou este texto, para saber se a lavoura invadiu, ou não, parte do acostamento e quais medidas de fiscalização tem adotado no estado para que empreendimentos não avancem para a faixa de domínio.
A Polícia Civil ainda não divulgou se também já identificou, ou não, o homem que aparece no segundo vídeo fazendo ameaças contra o gerente da Fazenda Bianco e o caminhoneiro flagrado durante o furto de 20 espigas de milho.
Fernando gravou a situação no momento em que o caminhoneiro já carregava as espigas de milho nos braços. “Eu vou procurar na internet quem é o dono desta empresa. Aqui o motorista ladrão, roubando meu milho. Parabéns, cara, você acaba de ser notificado como ladrão”, disse o gerente da Fazenda Bianco.
Em seguida, o caminhoneiro perguntou se poderia deixar as espigas onde estava, mas Fernando ordenou que fossem deixadas na caminhonete. “Põe lá dentro da caminhonete. Vou passar para polícia”, afirmou o gerente.
“Vou mostrar como faz agora essa goianada roubando milho, não tem vergonha na cara, não tem caráter. Se eu for à sua casa, entrar no seu quintal e pegar alguma coisa, sou ladrão ou não sou?”, questionou Fernando. O caminhoneiro, por sua vez, concordou e pediu “desculpa”.
No entanto, o gerente não parou de gravar nem de atacar o caminhoneiro. “Então, não custa nada pedir. Por que tem que pegar?”, perguntou, de novo, Fernando, antes de o caminhoneiro colocar as espigas na parte traseira da caminhonete.
O vídeo viralizou e repercutiu nas redes sociais. O prefeito da cidade de Cabeceiras (GO), Tuta, reclamou do gerente para o dono da fazenda Bianco e repudiou o caso.
O presidente do sindicato Rural de Cabeceiras, Jacó Rotta, também se pronunciou e manifestou “indignação”. “A atitude tomada extrapolou os limites do bom senso e respeito ao próximo. Não é certo pegar sem permissão, mas não justifica tal atitude. Em nome de todos os produtores, pedimos desculpas pelo ocorrido”, afirmou.
Em nota, o dono da Fazenda Bianco, Arno Bruno Weis, disse “não apoiar comportamentos e atitudes preconceituosas como as proferidas pelo gerente ao se deparar com uma pessoa furtando milho em uma das lavouras”. “Uma atitude injustificável”, afirmou.
No entanto, o fazendeiro disse que sofre prejuízos significativos com os exagerados furtos diários de milho. “Já houve casos de pessoas com carga completa de milho em camionetes e pequenos caminhões.
Em algumas oportunidades pessoas armadas praticando o furto de milho. Para reduzir os furtos nunca se sabe quem vamos encontrar roubando milho”, disse.