Em meio ao isolamento imposto pela pandemia do novo coronavírus, o afastamento repentino de uma figura conhecida da cena cultural de Brasília passou despercebida.
Nãnan Matos, ex-participante do The Voice, ficou cerca de um mês, no fim de 2020, sem fazer lives, atualizar as redes sociais e encontrar familiares e amigos próximos.
O motivo só veio à tona agora, após a história circular entre conhecidos de Nãnan e do companheiro dela na época, o músico e produtor cultural Henrique Alvim. O então casal foi preso sob a acusação de torturar uma menina de 8 anos, que estava sob guarda dela, quando ambos dividiam moradia em Alexânia (GO).
Os artistas negam as acusações. O episódio que deu origem ao processo teria ocorrido em outubro de 2020. Segundo informações contidas no inquérito policial, ao qual o Metrópoles teve acesso, a vítima era parente de Nãnan e morava com ela e com Henrique para facilitar os estudos.
Na madrugada do dia 26, por volta das 3h da manhã, a menina teria sido socorrida por um vizinho, nua e com frio. Em oitiva à polícia, a criança alegou que estava sendo agredida e que, naquele dia, teria fugido após ser submetida a uma sessão de agressões físicas e humilhações.
De acordo com o depoimento da menor, a cantora a acordou com três baldes de água fria e, em seguida, sob ameaças e agressões, forçou-a a lavar o banheiro.
Nãnan ainda teria se irritado com o fato de a menina ter usado uma esponja nova para fazer o serviço. Como punição, teria ordenado que ela colocasse o item, usado, na boca e permanecesse com ele por alguns minutos. Após a vítima pegar no sono de novo, Nãnan teria voltado a acordá-la e insistido para que ela a acompanhasse até um córrego próximo, para nadar com os patos. Henrique teria assistido a tudo sem se manifestar. A garota, então, fugiu e pediu ajuda em propriedades vizinhas.
Tanto Nanãn quanto Henrique foram presos na ocasião. O produtor cultural teria tido um embate com os policiais, por não concordar em comparecer à delegacia municipal de Alexânia para prestar esclarecimentos.
Prisão
Os dois passaram cerca de dois meses atrás das grades. Henrique Alvim teve o habeas corpus concedido no dia 15 de dezembro. A decisão atendeu a pedido da defesa do produtor, sob o argumento de que Henrique não praticou o crime de tortura e, sim, de omissão.
O delito é tipificado pela legislação penal e passível de pena de detenção de 1 a 4 anos. Na decisão que deliberou a soltura do brasiliense, o desembargador Itaney Francisco Campos considerou que a vítima, que teria sido capaz de narrar com detalhes os abusos que sofreu, teria afirmado que Henrique não participava das agressões.
Ele ainda destacou que a garota encontrava-se em abrigo, em poder do Estado, de forma que a soltura do homem não representaria perigo à menor. Já Nãnan teve o alvará de soltura concedido dois dias depois do então companheiro. Antes, ela passou por dias difíceis na prisão. A artista foi vítima de agressões, ameaças e injúria racial.
Em outro processo citando seu nome, a cantora acusa uma detenta de ter proferido ofensas raciais e de tê-la chamado de “torturadora de crianças”, fato confirmado por testemunhas. A artista brasiliense, contudo, não compareceu à audiência preliminar do caso, em dezembro do ano passado, o que levou à extinção da punibilidade da acusada. O processo, então, foi arquivado em 20 de abril deste ano.