30/01/2023 às 23h51min - Atualizada em 31/01/2023 às 00h00min

Bolsista do CNPq, professor da UFAL viaja ao México para pós-doutorado e é barrado e deportado: 'Acusados de portar visto falso'

Professor há 13 anos, pesquisador é bolsista do CNPq e faria pós-doutorado em parceria internacional. Ele viajou com filhos, esposa e sogra: 'Frustração de expectativas, prejuízo acadêmico, prejuízo financeiro, danos emocionais', desabafa.

G1 Brasil
https://g1.globo.com/al/alagoas/noticia/2023/01/30/bolsista-do-cnpq-professor-da-ufal-viaja-ao-mexico-para-pos-doutorado-e-e-barrado-e-deportado-acusados-de-portar-visto-falso.ghtml

Professor há 13 anos, pesquisador é bolsista do CNPq e faria pós-doutorado em parceria internacional. Ele viajou com filhos, esposa e sogra: 'Frustração de expectativas, prejuízo acadêmico, prejuízo financeiro, danos emocionais', desabafa. Pesquisador brasileiro, filhos, esposa e sogra foram barrados e deportados do México
Arquivo pessoal
O sonho do pós-doutorado no México se transformou no pior pesadelo do professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Diego de Oliveira Souza, e a família. Ao chegarem ao novo país, eles foram barrados na emigração, acusados de portar passaportes falsos, separados por horas e foram deportados.
O g1 conversou com o professor nesta segunda-feira (30). Após serem expulsos do México e colocados em um avião sem receberem nenhuma explicação e sem chance de defesa, o pesquisador, a esposa, os dois filhos pequenos e a sogra dele chegaram ao Rio de Janeiro, de onde haviam partido no dia 27.
"Foi uma frustração de expectativas. Prejuízo acadêmico. Prejuízo financeiro. Danos emocionais. Só pensava nos meus filhos, minha esposa, minha sogra. Minha prioridade agora é levá-los para casa em segurança", afirmou.
Bolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o professor da Ufal/Campus Arapiraca e uma colega pesquisadora, também financiada pelo CNPq, se programaram para fazer o pós-doutorado no México e levarem suas famílias.
"Viemos ao Consulado Mexicano, no Rio de Janeiro, no dia 23 de janeiro fazer a entrevista, conforme agendamento, realizada com o governo mexicano via internet. Apresentamos toda a documentação e tivemos nosso visto emitido no dia 23, assim como a minha colega pesquisadora junto com a família teve o visto emitido no mesmo dia. Fizemos tudo juntos e viajamos juntos para o México no dia 27".
Pesquisadores brasileiros viajaram para pós-doutorado no México e levaram famílias
Arquivo pessoal
A primeira atividade da parceria internacional com a Universidad Autónoma de la Ciudad de México seria ministrar um curso no México, mas o pesadelo começou na emigração.
"Nós fomos barrados na emigração, acusados de portar o visto falso. Tivemos nossos passaportes recolhidos, não só os passaportes, todos nossos pertences, inclusive celular. Minha família foi detida, separada de mim. Eu fui detido em outro setor só com homens. Disseram que tinha separação por gênero, mas a minha esposa relata que lá onde ela ficou tinha homens. Então não se sustenta", contou.
O professor relata que sequer teve chance de ser ouvido pelas autoridades mexicanas e não recebeu nenhuma explicação sobre o que estava passando.
"Tiraram tudo meu, inclusive cadarço de tênis. Até o cadarço dos tênis eles fizeram eu retirar. Eu fiquei lá isolado, incomunicável, nem direito a ligação eu tive. Eu explicava a todo momento que era um pesquisador a serviço do governo brasileiro, que tinha um convite da Universidade mexicana, que tava com a documentação. Eles nem me ouviam e nem explicavam o que estava acontecendo comigo, nem o que iria acontecer, apenas que o meu visto era falso", relatou.
Após horas separados, o pesquisador e os parentes se reencontraram no avião em que foram colocados. O destino era o Rio de Janeiro.
"Isso tudo depois de uma viagem bem cansativa. Foram 14 horas ao todo. Eu já estava sem dormir da noite interior. Aí fui deixado lá por mais de 10 horas. Claro, sem dormir. Só então quando foi às 4h da manhã me chamam e aí me levaram direto para o avião junto com a minha família. Aí os reencontrei. Devolveram o meu celular. Não devolveram os passaportes. Os passaportes eu só recebi no Brasil".
O avião fez uma parada em Bogotá, na Colômbia. No aeroporto, as humilhações continuaram. O pesquisador viu os filhos chorarem de fome e dormirem no chão.
"E aí a gente é mandado de volta via Bogotá. Paramos em Bogotá. Lá também não foi fácil porque ficamos 12 horas esperando um voo isolados em uma sala lá de desembarque desativada. Acompanhados sempre por seguranças colombianos, que eram mais cordias que a polícia migratoria do méxico, mas que de toda forma a gente não tinha liberdade. Podia comprar comida e água com o meu dinheiro desde que eles me acompanhassem. Teve uma hora que os meus filhos chocaram com fome e naquele momento eu não tinha nenhum segurança para me acompanhar e eu vi meus filhoi chorando com fome sem poder fazer nada".
O pesquisador e a família chegaram ao Rio de Janeiro no domingo (29) e vão retornar para Alagoas nesta terça (31).
O professor recebeu apoio de diversas instituições científicas e de colegas (veja notas das universidades ao final do texto).
"As duas universidades apoiarem o pesquisador. "Tenho recebido apoio. A Universidad Autónoma de la Ciudad de México foi a primeira a se manifestar. Emitiu uma carta pública de denúncia. Disse que vai acionar a Justiça Mexicana. A Ufal entrou em contato comigo. Disse que vai pedir reuniões com a embaixada mexicana. Vai fazer denúncias também. Falar com o Itamaraty. Outras instituições científicas, colegas. Eu tenho recebido muito apoio, que tem sido muito importante para seguir em frente".
Traumatizados, os dois pesquisadores brasileiros vão abandonar o pós-doutorado no México.
"Não pretende voltar lá ao México. É claro. Vou abandonar o pós-doutorado e tentar dialogar com o CNPq, que investiu dinheiro público em mim. Explicar a situação e ver o que pode ser feito para suspender a atividade. Minha colega está lá no México, mas vai abandonar também o pós-doutorado porque ela afirma não ter condições psicológicas de seguir. Minha colega está lá com a família dela, mas está tentando voltar imediatamente para o Brasil e também vai abadonar a atividade, proque foi uma experinecia muito traumatica para eles também", afirmou.
Filhos e sogra de pesquisador brasileiro dormindo no chão de aeroporto após serem deportados do México
Arquivo pessoal
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS - CAMPUS ARAPIRACA
CURSO DE ENFERMAGEM
NOTA PÚBLICA
O Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Alagoas/Campus Arapiraca vem a público se solidarizar com o prof. Dr. Diego de Oliveira Souza e família, pesquisador que, no gozo de férias, viajou ao México para dar início a atividades de Estágio pós-doutoral na Universidad Autónoma de la Ciudad de México (UACM), com financiamento do CNPq, e teve sua entrada no país negada, sem direito à apresentação da documentação que comprovaria o motivo da viagem, tendo sido afastado dos familiares e submetido a constrangimentos incabíveis, uma vez que todos estavam de posse de passaportes válidos e emitidos pela Polícia Federal em Alagoas e com vistos para entrada no México, obtidos no serviço consular do Rio de Janeiro, em 23 de janeiro de 2023.
Em tempo, agradecemos ao apoio dos docentes/pesquisadores da UACM e da Reitoria da UFAL, e aguardamos as medidas cabíveis por parte das autoridades brasileiras e mexicanas, face aos danos físicos, psicológicos e financeiros decorrentes desse impedimento.
O Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Alagoas/Campus Arapiraca continua a disposição do prof. Dr. Diego de Oliveira Souza e família e manifesta, com veemente indignação, a sua perplexidade diante dos lamentáveis fatos ocorridos.
Arapiraca/AL, 28 de janeiro de 2023
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Fonte: https://g1.globo.com/al/alagoas/noticia/2023/01/30/bolsista-do-cnpq-professor-da-ufal-viaja-ao-mexico-para-pos-doutorado-e-e-barrado-e-deportado-acusados-de-portar-visto-falso.ghtml
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