“Moço quanto está o pequi?”. Esta é a pergunta que o freguês sempre faz ao encontrar uma banca nas feiras, tendas e carrinhos espalhados pela cidade. O próprio Carlos Alberto, que já trabalha com venda do pequi há mais de 30 anos, conta que nesses longos anos a busca pelo considerado ‘ouro do cerrado’ tem só aumentado, e que é raro não ter o produto na mesa do goiano vendido por R$ 10 ou R$ 12 o litro na capital.
“Diariamente vou até o Ceasa e pego cerca de cinco caixas. Ao longo das 7h da manhã e 18h são descascados e vendidos para centenas de pessoas. Esse é um produto que a meu ver nunca vai perder seu lugar nas refeições. Um fruto muito versátil, cheiro marcante, amarelo como o cerrado e delicioso no paladar”, expressa o comerciante.
A cada esquina do Centro de Goiânia a cor amarelada chama a atenção de quem passa. São poucos os transeuntes que resistem e não levam um litro para casa. “Pequi nunca é demais. Faz no arroz, no frango, sozinho na panela, e se tiver sem pressa para comer, dá até para preparar ele em conserva. Nessa época do ano, é quase impossível não roer o caroço do pequi”, expõe Luciene Souza Silva, consumidora e cliente fiel do Carlos Alberto.
A florada do pequizeiro acontece entre os meses de agosto e setembro, comprovando que mesmo no período da estiagem a vida não para no cerrado em Goiás. “Deus pensou com muito carinho nos goianos por ter criado esse fruto tão gostoso”, afirma a dona de casa Rosemeire Quirino, que apaixonada pelo fruto, mantém um pequizeiro no quintal de sua chácara.
Quando as flores caem, o chão enfeitado de amarelo é sinal de que logo mais o fruto estará no ponto para ser degustado. Por ter um gosto marcante, o pequi faz parte da essência da culinária regional, proporcionando inúmeras opções de pratos e combinações com outros ingredientes. Porém, a polpa deve ser comida com cuidado, já que é envolta por espinhos.
Já se passaram 35 anos e Júnior César sempre manteve em sua banca o pequi. Quando não é a hora da colheita do produto, ele comercializa o coco seco ou as frutas de época. Só que ele explica que quando tem pequi na feira, os clientes compram muito mais. “São mais de 70 litros vendidos quase todo dia. Tem muito freguês que faz assim como eu, vai comprando, comendo e estocando no freezer de casa para ter essa maravilha o ano todo”, argumenta o comerciante.
Aos domingos, Júnior afirma vender mais de 100 litros apenas na feira do setor Leste Vila Nova. “Antes de levar, muita gente já pergunta se o pequi é docinho e se ele tem muita polpa. E mesmo sendo um fruto típico do cerrado, muitos outros estados possuem a produção alta do pequi, mas como comerciante e bom viajante, vejo que Goiás é um dos estados que as pessoas mais consomem o produto”, conta.
Só que além do seu alto valor para a gastronomia, o pequi também tem propriedades medicinais, como antioxidantes. Eles previnem até mesmo os efeitos colaterais provocados pela quimioterapia. “Graças às altas quantidades de vitamina A e C e compostos fenólicos presentes no fruto. Por isso, ajuda a prevenir o envelhecimento precoce e combate a ação dos radicais livres”, explica a nutricionista Bruna Alves.
De acordo com a especialista, o pequi também ajuda a promover a saúde da visão e a controlar a pressão arterial, já que o fruto contém nutrientes como o potássio e possui propriedades anti-inflamatórias. “Ele relaxa os vasos sanguíneos, prevenindo complicações e problemas cardíacos. Mas devemos ter cautela, pois nenhum alimento isolado é capaz de tratar uma doença já existente, e sim ajudar na prevenção, de acordo com uma alimentação balanceada”, aponta.
Do pequi se aproveita praticamente tudo, tem a polpa amarela muito consumida e dentro dela tem uma castanha bastante saborosa. Agora novos estudos estão sendo desenvolvidos para essa parte branca que pode ser transformada em farinha e usada na preparação de diversos pratos culinários. O pequi é um fruto muito gorduroso, por isso deve-se ter uma atenção no preparo para não desequilibrar a dieta.
“Realmente ele é rico em gorduras, sendo uma proporção maior de ácidos graxos insaturados, que classificamos como uma “gordura boa”. Mas mesmo assim deve ser consumido com cautela, e sem exageros. No entanto, conseguimos sim encaixar em um almoço de família, em uma comemoração. Sendo consumido com o famoso arroz e feijão, salada e vegetais, constitui uma refeição rica em macro e micronutrientes, contribuindo para uma melhor saúde”, destacou Bruna Alves.
Goiás é o segundo maior produtor de pequi do País, atrás de Minas Gerais. Mas a Ceasa de Goiás é a maior vendedora do produto no Brasil e comercializa bem mais do que é extraído no Estado. Das 7,1 toneladas de 2021, apenas 2 toneladas têm origem goiana. O que evidencia também que Goiás tem o maior consumo.
A remessa do Tocantins representa cerca de 30% de tudo que entra do produto no entreposto goiano. Em meados de outubro, chegam as primeiras cargas do Norte Goiano, de cidades como Porangatu, Crixás e Santa Tereza. O de Minas chega no mês de janeiro e é responsável pelas vendas até janeiro do ano conseguinte.
Com menos expressividade, o pequi matogrossense pode ser encontrado no mercado em meados do mês de novembro. Já o fruto originário do Noroeste Goiano, às margens do Rio Araguaia, é considerado o “filé mignon” dos pequis na Ceasa. Porque apresenta caroços maiores, mais ricos em polpa e sabor. Quando a produção de São Miguel do Araguaia chega à Ceasa e às feiras, apresenta preço mais elevado, por representar o que de melhor se produz em relação ao fruto.
A extração de pequi vem crescendo em território goiano desde 2018. Naquele ano, foram extraídas 2,02 mil toneladas. Em 2019, o volume aumentou para 2,34 mil toneladas. Em 2020, subiu para 2,58 mil toneladas. Embora seja uma planta nativa do bioma Cerrado, a produção de mudas de pequi em escala comercial não é facilmente alcançada, devido à característica de dormência que suas sementes apresentam.
Com isso, os frutos comercializados são quase na sua totalidade oriundos da extração vegetal que, em 2020, no país, teve crescimento expressivo de 127,9%, em comparação ao ano anterior – com 63,5 mil toneladas, apontou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.