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09/01/2024 às 10h48min - Atualizada em 09/01/2024 às 10h48min

Miss trans que denuncia delegado por estupro acha que foi dopada e conta que foi deixada dentro de porta-malas após abuso

Exame cujo objetivo é identificar se a vítima foi ou não dopada foi realizado e o resultado deve ser apresentado em até 30 dias. O delegado Kleyton Manoel Dias nega o crime.

Por Larissa Feitosa, g1 Goiás
https://g1.globo.com/go/

A miss trans, de 23 anos, que denuncia ter sido estuprada pelo delegado Kleyton Manoel Dias, em Goiânia, acredita ter sido dopada antes do abuso. Jade Fernandes relata que a violência sexual foi praticada dentro do porta-malas do carro do delegado e que foi deixada por ele lá dentro até chegar em casa. As declarações foram dadas pela jovem durante entrevista coletiva à imprensa, nesta segunda-feira (8).

“Eu sou uma menina muito observadora, muito detalhista e é estranho a forma como da hora que eu saí da boate, até alguns minutos dentro do carro, eu já não consigo lembrar de tudo. São vultos”, afirma Jade.

Em nota, o delegado disse que repudia as acusações e que se coloca à disposição das autoridades na investigação do caso. Kleyton também disse que "irá provar sua inocência" e que está "muito abalado com o ocorrido" (veja a nota completa ao fim da reportagem).

 


A modelo, maquiadora e miss trans, Jade Fernandes — Foto: Reprodução/Redes sociais

A defesa de Jade informou que um exame pericial comprova que houve conjunção carnal na data do crime. Outro exame, cujo objetivo é identificar se a vítima foi ou não dopada, também foi realizado e o resultado deve ser apresentado em até 30 dias.

A Polícia Civil informou que, assim que tomou conhecimento do caso, adotou todas as medidas necessárias para seu esclarecimento, sendo o fato investigado pela Delegacia da Mulher (Deaem) com auxílio e acompanhamento da Corregedoria. Kleyton foi afastado de suas funções e passou a atuar em uma unidade administrativa.

Entenda o caso

O crime aconteceu na madrugada de sexta-feira (5). Jade foi para uma boate na capital, onde acontecia a festa de aniversário de um jornalista, que é conhecido dela. O delegado também era um dos convidados. Ao final da celebração, o jornalista foi embora, mas Jade, o delegado e outra mulher combinaram de ir para outro local, pois o assunto entre eles estava bom.

Kleyton ofereceu carona até o novo estabelecimento. Dentro do carro, a mulher perguntou à Jade se ela era uma mulher ou um homem. Depois da resposta, o delegado decidiu cancelar a continuidade da noite e ofereceu-se para deixar as duas mulheres em casa.

Primeiro, Kleyton deixou a outra mulher em casa, no bairro Jardim Novo Mundo, e depois seguiu em direção a casa de Jade, no Setor Jaó. A vítima disse que não se lembra de todo trajeto, mas que em determinado momento, o delegado parou o carro em um local escuro e pouco movimentado e a perguntou: “O que vamos fazer agora?”. Ela diz que respondeu que iria para casa.


Jade Fernandes aparece nua saindo do carro de delegado, em Goiânia — Foto: Reprodução/Câmeras de segurança

Segundo a vítima, foi neste momento que o delegado passou a forçá-la a praticar sexo com ele. Mesmo com as negativas da miss, Kleyton a levou até o porta-malas do carro, onde praticou o estupro. Jade continuou dentro do porta-malas do carro, até o delegado parar em frente a casa dela.

Uma câmera de segurança registrou quando a jovem sai do veículo completamente nua. Ela esconde as partes íntimas com os sapatos. Minutos depois, o delegado retorna ao local e deixa o vestido de Jade na porta do imóvel.

Trauma

Jade divide casa com o amigo Ricardo Amaral Dias. À TV Anhanguera, ele contou que ela chegou em casa dopada e bastante ferida. Ele chamou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e a vítima foi levada para um hospital, onde recebeu atendimento médico.

“Não consigo dormir. Tem uns três dias que eu não durmo, nem tomando medicamento. Continuo sangrando, machucada. Estou tomando analgésico”, desabafa.

Essa não é a primeira vez que Jade sofre um estupro, mas segundo a vítima, é a primeira vez que ela denuncia. “A mulher que eu me tornei foi para ter uma voz muito maior do que qualquer outra coisa [...] não podia me deixar passar mais por qualquer tipo de preconceito ou violência. Outras mulheres e tantas outras mulheres transexuais passam por isso e têm medo de retaliação, mas agora chega. A gente está cansado”, lamentou.


A modelo, maquiadora e miss trans, Jade Fernandes — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Medida protetiva

O juiz plantonista Thiago Soares Castelliano Lucena de Castro concedeu uma medida protetiva para Jade. No documento emitido pelo TJGO, o juiz determinou que o delegado:

permaneça a uma distância mínima de 300 metros da miss e de seus familiares, sem qualquer tentativa de aproximação;não entre em contato com a miss ou seus familiares por qualquer meio de comunicação (telefone, WhatsApp, e-mail e outros);não frequente os mesmos locais que a miss;
 

Íntegra nota delegado Kleyton Manoel

"De início, repudia veementemente as acusações e se coloca à inteira disposição das autoridades nas investigações que apuram o caso.

Informa que ainda não foi ouvido no inquérito que investiga o suposto estupro. Irá provar a sua inocência e neste momento está muito abalado com o ocorrido, cuidando de sua família, esposa e filho.

Por fim, pede encarecidamente a todos cautela nas conclusões precipitadas, que aguardem as conclusões das investigações no esclarecimento dos fatos, que ao final irá demonstrar a sua inocência."

 

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