O nome de Luis Claudio Lula da Silva, filho mais novo do presidente Lula, atravessou um campo muito delicado para o governo do pai e para o eleitorado feminino que o elegeu. A médica Natália Schincariol, de 29 anos, ex-mulher de Luís Cláudio, de 39, o acusa de violência doméstica, conforme o boletim de ocorrência registrado na última terça-feira (2). Eles formaram um casal por dois anos em uma união estável. A história chegou ao fim com um desfecho que já está sendo usado contra Lula pelos seus detratores.
Na manhã desta quinta-feira (4), a médica decidiu falar com a reportagem depois de um contato feito inicialmente por mensagem no Instagram, onde ela tem quase 25 mil seguidores e publica fotos de suas viagens e trabalhos. A conversa evoluiu para mensagens e áudios no WhatsApp após o Tribunal de Justiça de São Paulo conceder medida protetiva à vitima na quarta-feira (3). A decisão determina que Luís Cláudio deixe o apartamento onde vivia com Natália e não faça contato nem se aproxime a menos de 200 metros da ex-mulher.
O imóvel é nosso, metade — metade. Desde que ele fez tudo isso comigo, estava disposta a comprar a parte dele. Fiz diversas propostas e assim [eu pudesse] me libertar. Ele não aceitou. Cheguei até oferecer pagar uma locação para ele sair do imóvel. Solicitei incansavelmente que ele saísse.
Natália registrou um boletim de ocorrência por violência doméstica contra o ex-companheiro, após um desentendimento mais sério entre o casal. No B.O., Natália relata ter sido vítima de agressões "de natureza física, verbal, psicológica e moral", e citou especificamente "uma cotovelada na barriga" em uma briga em janeiro deste ano.
Segundo ela, a agressão veio quando estava com o celular dele na mão, checando todas as possíveis traições. Ele teria usado o cotovelo para que ela soltasse o aparelho. Em um outro trecho do boletim, ela descreve episódio de violência verbal. A médica diz ter sido ofendida com palavras como: doente mental, vagabunda e louca.
Traição e cegueira
Ficaram muitas dores da relação com o filho do presidente da República. As mais marcantes, parecem ter sido as traições. "Pode ser que já tivesse traição antes, mas só descobri agora e tudo de uma vez. Ele sempre foi machista, mas como era um machismo sutil, discreto, mascarado, eu achava que era coisa da minha cabeça", disse Natália. "Até que o machismo se tornou explícito. Duas ex-namoradas me procuraram para me avisar que ele não era o que parecia ser, mas eu o amava tanto que fiquei cega".
A traição mais recente foi descoberta por uma ligação inesperada. Para a surpresa dela, do outro lado da linha, um marido traído."O marido da amante dele me ligou do Amazonas [Luis Claudio é diretor do clube de futebol Parintins]. Me contou que precisou fazer uma cirurgia de hérnia, às pressas, e depois descobriu que enquanto estava internado no hospital, a mulher tinha traído ele com o Luis na cama do casal. Agora, somos nós dois os traídos em sofrimento."
Natália afirma ter tentado perdoar as traições por amor, mas que não conseguiu. Se conheceram através de amigos, em 2022, antes de Lula retornar ao poder. Aos poucos, diz ter se dado conta de que, inicialmente, conheceu um homem humilde e simples, e que o fato de voltar ao status de filho do presidente da República, desde janeiro de 2023, mexeu com a vaidade do ex-companheiro. "Subiu na mente [à cabeça] o fato de o pai virar presidente. Mas é aquela frase: quer conhecer o caráter de um homem, dê a ele poder."
Exposição a risco e embriaguez
No boletim de ocorrência, há o relato de que Luis Claudio teria mantido "relações sexuais com outras mulheres de forma desprotegida". "Ele contraiu infecção e me expôs em risco conscientemente. Ainda bem que sempre me preveni com preservativos", afirmou Natália.
A médica diz que o ex-companheiro chegava em casa embriagado e que teria sido pressionada a não denunciar as agressões, já que o então companheiro teria "influência".
Procurada pela reportagem, a defesa de Luís Cláudio Lula da Silva mantém a versão da nota emitida na quarta pela advogada Carmen Ramos Tannuri, que refuta as acusações da ex-mulher de seu cliente. As falas de Natália são tratadas de "fantasiosas", enquadradas como "calúnia, injúria e difamação".
Silêncio no Planalto
Enquanto isso, em Brasília, não houve nenhuma manifestação a respeito do tema até o momento. O silêncio imperou, apesar de a violência contra a mulher ser um tema caro ao governo Lula.