Ele trabalhou a vida toda em jornais e revistas. Pioneiro como repórter, criou um estilo de texto híbrido de literatura e reportagem, ficção e realidade. “João do Rio não separou jornalismo de literatura. Sua busca por transformar o ofício em grande arte é um convite a pensarmos no fazer literário em seu campo expandido”, disse Mauro Munhoz, diretor artístico da Flip.
Na sua observação das ruas e do povo, João do Rio fez coro com pensadores da passagem do século XIX ao XX que tinham a cidade como centro do pensamento, refletindo sobre o progresso, a velocidade, a formação urbana e as suas contradições.
"Ele desempenhou um papel crucial ao documentar a vida urbana do Rio de Janeiro com uma perspectiva única e detalhada num momento em que a então capital federal se expandia de maneira desgovernada. Ainda hoje, o crescimento predatório faz parte da realidade de diversas cidades brasileiras, como Paraty. É com essa sensibilidade etnográfica, presente na literatura de João do Rio, que convidamos moradores e visitantes a estar no território que abriga a festa", argumenta Munhoz.
O escritor, que conquistou uma vaga na Academia Brasileira de Letras aos 29 anos, era um personagem múltiplo e controverso. “João do Rio era e continua sendo uma figura contraditória. Por um lado, era fascinado por Paris, por outro, subia os morros do Rio de Janeiro com muito gosto, da mesma forma que o Rio era uma cidade dividida entre a fome de progresso e o convívio com sua formação”, salienta Ana Lima.
“Mas, ainda que tenha morrido famoso – seu enterro arrastou multidões –, permaneceu quase esquecido por mais de um século. A homenagem da Flip quer destacar essas contradições, justamente por ajudarem a explicar o Brasil”, completa.
João do Rio percorreu o mundo, colecionou admiradores e desafetos. Filho de pai branco e mãe negra, abraçou as polêmicas com coragem – desde mergulhar nas religiões de matriz africana, tão populares no Rio de Janeiro, até ser o responsável pela tradução e divulgação da obra de Oscar Wilde, o que levou a especulações sobre sua sexualidade.
Vestia-se como um dândi, arrumando brigas, despertando gargalhadas, mas nunca passando despercebido, dizem os organizadores. Vítima de um ataque cardíaco que o impediu de completar 40 anos, deixou 25 livros e mais de 2,5 mil textos publicados em jornais e revistas.
Com informação da Agência Brasil