Neste dia 31 de dezembro, Iris Rezende encerra sua carreira política na posição de prefeito de Goiânia. O goiano de Cristianópolis foi a pessoa que mais governou a Capital, com quatro mandatos, e sua aposentaria da vida pública não poderia ser em outro lugar, a não ser no comando da gestão de Goiânia. A história de Iris Rezende e da capital do Estado praticamente se confundem. Ambos são, inclusive, do mesmo ano: 1933. Ele se mudou para Goiânia aos 15 anos e uma década depois iniciou sua carreira política como vereador pelo PTB. A primeira vez que chegou ao gabinete de prefeito foi em 2 de dezembro de 1959, quando assumiu o cargo interinamente, aos 26 anos de idade. Esses foram os primeiros 15 dias dos futuros 16 anos de comando da cidade mais importante de Goiás. O anúncio de sua aposentadoria política veio no último dia 25 de agosto. O pronunciamento, feito pelo próprio emedebista, foi transmitido ao vivo pelas redes sociais e informou aos goianienses de sua decisão tomada de maneira "irredutível e definitiva", como ele mesmo enfatizou.
Iris Rezende durante o pronunciamento em que anunciou sua aposentadoria política (Foto: Prefeitura de Goiânia)
Ao lado de auxiliares de governo, vereadores e lideranças políticas, Iris fez o anúncio. “Aqui estou para, de maneira oficial, comunicar que não serei candidato à reeleição da Prefeitura de Goiânia no pleito que se aproxima. Encerro neste momento minha carreira política construída ao longo de mais de seis décadas”. Desde 2019 Iris afirmava em entrevistas que estaria fora do jogo político deste ano, confirmando que sua carreira terminaria com a conclusão de seu atual mandato de prefeito da Capital. Em diversas ocasiões, afirmou que se candidatou em 2016 para "consertar a administração municipal", e que esta seria sua última gestão.
Iris se emociona na solenidade de entrega das obras do complexo viário da Avenida Jamel Cecílio (Foto: Prefeitura de Goiânia)
Para o cientista político Luiz Signates, a marca principal de Iris Rezende, além de sua longevidade e sua resiliência política, foram as obras físicas que ele deixou, especialmente aquelas que impactam no trânsito. "Ele foi o político que melhor soube aproveitar-se da histórica aliança dos diversos níveis de poder no Brasil com as empreiteiras. E isso foi bastante significativo, a ponto de recobrir as carências de realizações nas áreas de serviços e de tecnologias", pontua. Essa característica é evidenciada desde quando elegeu-se prefeito de Goiânia pela primeira vez, em 1966. Sua gestão foi marcada pelos mutirões para a construção de casas populares, nos quais se misturava às pessoas comuns e ajudava nas obras. Na avaliação do cientista político Robert Bonifácio, além da grande liderança política que sempre foi em Goiânia e no Estado, Iris teve a inteligência de criar obras que são marcas registradas da Capital. "É impossível andar pela cidade e não remeter a ele. São grandes obras, algumas que a população até brinca, como 'os chifres do Iris', todas muito associadas a ele, além dos mutirões, que são sua marca."
Carreira política Iris iniciou sua carreira política em Goiânia, quando foi eleito vereador pelo PTB em 1958. Em 1960 formou-se em Direito pela Universidade Federal de Goiás (1960) e foi presidente da Câmara no biênio 1961-1962. Em 1963 foi eleito deputado estadual sendo o candidato mais bem votado no estado.
Iris Rezende no início de sua carreira política, em Goiânia (Foto: Arquivo Pessoal)
Com o fim dos partidos políticos, por força do Ato Institucional nº 2 (25/10/1965), baixado pelo regime militar, Iris Rezende ingressou na legenda oposicionista do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Em 1965 disputou as eleições para prefeito da capital, assumindo o mandato no ano seguinte. Sua atuação foi tão destacada à frente da prefeitura de Goiânia que chamou a atenção do governo militar. Por conta disso, seus direitos políticos foram cassados por 10 anos, com base no Ato Institucional 5 (AI-5). Com o afastamento da vida pública, dedicou-se à advocacia. Com redemocratização, Iris teve seus direitos políticos reestabelecidos em 1979. Voltou à atuação política em 1982, quando foi eleito governador de Goiás pelo PMDB com mais de 70% dos votos válidos. Sua marca foi, novamente, a dos grandes mutirões, chegando a construir mil casas em um só dia. Em 1986, Iris foi nomeado ministro da Agricultura, no governo do presidente José Sarney, onde ficou até o fim do mandato. Em 1990 voltou a disputar o governo de Goiás, onde ficou até 1994, quando se descompatibilizou do cargo para concorrer a uma cadeira no Senado, quando foi eleito. No Senado, Iris tornou-se presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), uma das mais importantes da casa. Voltou a ser ministro em 1997, na primeira gestão de Fernando Henrique Cardoso, na pasta da Justiça. Deixou o Ministério em 1998 para disputar o governo de Goiás em outubro do mesmo ano e como não foi eleito, voltou a exercer seu mandato no Senado.
O ex-governador Naphtali Alves, Iris e Maguito Vilela, nas campanha de 1998 (Foto: Arquivo Pessoal)
Tentou se reeleger senador em 2002, mas não conseguiu emplacar um novo mandato. Deixou o Senado no término da legislatura, em 31 de dezembro de 2003. Em 2004 disputou a prefeitura de Goiânia com Pedro Wilson (PT) e foi eleito no segundo turno. Nesta gestão, dedicou-se a melhorar a educação pública municipal com a contratação de professores e investimentos em construção de novas escolas. Inaugurou 35 Centos Municipais de Educação Infantil (Cmeis), realizou obras de urbanização com a construção e revitalização de praças, além de pavimentação asfáltica, revitalização de terminais e novas linhas de ônibus. Em 2007 inaugurou uma de suas obras mais marcantes, o Viaduto da Praça Latif Sebba, mais conhecido como Viaduto do Ratinho. Sua aprovação o levou à reeleição em Goiânia em 2008. Em 2010 abdicou da prefeitura para se candidatar ao governo estadual, mas não foi eleito. Nas eleições seguintes tentou novamente se eleger governador, mas novamente sem sucesso. Em 2016 escreveu e divulgou à imprensa uma carta que anunciava o fim de sua carreira política. No mês seguinte, entretanto, oficializou sua candidatura à prefeitura de Goiânia e foi eleito para o seu último mandato, à frente da Capital. Sua atual gestão foi marcada por obras de infaestrutura, como a retomada das obras do BRT e o complexo viário da Avenida Jamel Cecílio.
Popularidade Um ponto levantado pelo cientista político Robert Bonifácio para a popularidade de Iris é o fato de que o atual prefeito sempre pertenceu a um grande partido, de expressão nacional. "Isso contribuiu muito para ter sido sempre eleito com boa votação, ter sido, inclusive, ministro. Ele está há muito tempo na política e não existe um eleitor goianiense que não o conheça. Suas marcas de gestão são conhecidas da população goiana: começa com os dois primeiros anos de austeridade fiscal e os dois últimos com investimentos em obras."
Iris sempre foi reconhecido por sua popularidade (Foto: Divulgação)
Para Signates, outro aspecto admirável em Iris Rezende foi sua capacidade de se reerguer das derrotas eleitorais sofridas, como nas candidaturas ao governo do Estado em 1998, ao senado, em 2002, e novamente ao governo de Goiás em 2010 e 2014. Então, em 2016, foi eleito pela quarta vez como prefeito de Goiânia. "Normalmente, políticos que se tornam governadores, senadores e ministros, ocupando tais cargos em sequência, dificilmente retornam a postos de menor expressão, como as prefeituras. Iris teve a humildade e a sabedoria política de fazer isso e, assim, assegurou seu lugar na história, deixando a vida pública num momento de sucesso, em que os elogios recobrem largamente as eventuais críticas que ele poderia sofrer", avalia Luiz Signates. O cientista político evidencia ainda a importância nacional de Iris Rezende, como um ator político de extrema relevância após os governos militares. "Sem dúvida que é um líder de expressão histórica, personagem típico da política brasileira pós-ditadura militar. Uma liderança que, se não carrega os distintivos da alta modernidade, nada deixa a dever naquilo que o consagrou, como um tocador de obras, que deixa marcas imortais por onde passa."
Despedida Para se despedir da prefeitura de Goiânia e da vida pública, Iris Rezende gravou um vídeo dedicado à população goianiense. Em sua mensagem, ele destaca a luta contra a pandemia do novo coronavírus e os investimentos feitos para o combate à doença, além de mostrar sua solidariedade. "A pandemia nos surpreendeu e chegamos ao final de 2020 ainda lutando contra ela. Por isso, mais uma vez quero me solidarizar com aqueles que perderam entes queridos e também com aqueles que foram atingidos pela crise econômica", disse. O prefeito da Capital ainda destacou as ações e obras durante a gestão, tanto na área de mobilidade quanto os investimentos feitos na educação e saúde. "As obras não pararam, entregamos a cidade com uma nova estrutura de mobilidade, que permitirá um salto de desenvolvimento. Foram 16 grandes obras estruturantes e mais de R$ 1 bilhão investido. Tudo o que fizemos só foi possível graças ao esforço de recuperação das contas e uma gestão responsável e transparente com os gastos", afirmou. Na mensagem, Iris afirma que acredita que esse ano tenha revelado o lado mais luminoso das pessoas e desejou que em 2021 todos continuem juntos, "lutando pelos valores que nos tornam uma cidade e um país melhor: a democracia, a ciência, a imprensa livre, a liberdade de expressão e a tolerância em nossas diferenças." Por fim, o prefeito que mais governou Goiânia concluiu seu pronunciamento afirmando que encerra seu mandato e sua vida política com a certeza do dever cumprido. "Tenho orgulho pela oportunidade de servir a essa cidade que me deu tudo e sempre otimista com nosso futuro. Que Deus continue nos abençoando a todos e um feliz 2021", finalizou.