Em Washington, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de volta de uma viagem a Israel para demonstrar seu apoio ao país, pediu aos norte-americanos, em um discurso televisionado, autorização para gastar bilhões de dólares a mais para ajudar Israel a combater o Hamas que, segundo ele, busca "aniquilar" a democracia de Israel.
"Vocês veem Gaza agora à distância, em breve a verão de dentro. O comando virá", disse o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, às tropas reunidas na fronteira com Gaza na quinta-feira (19).
Israel tem bombardeado Gaza com ataques aéreos e colocou os 2,3 milhões de habitantes do território sob um cerco total, proibindo até mesmo o envio de alimentos, combustível e suprimentos médicos. Desde 7 de outubro, 3.785 palestinos foram mortos, incluindo mais de 1,5 mil crianças, segundo autoridades palestinas. A Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que mais de um milhão de pessoas ficaram desabrigadas.
Israel já ordenou a todos os civis que deixassem a metade Norte da Faixa de Gaza, que inclui a Cidade de Gaza. Muitas pessoas ainda não saíram, dizendo que temem perder tudo e que não têm um lugar seguro para ir, já que as áreas do Sul também estão sendo atacadas.
O Patriarcado Ortodoxo de Jerusalém, a principal organização cristã palestina, disse que as forças israelenses atingiram a Igreja de São Porfírio, na Cidade de Gaza, onde centenas de cristãos e muçulmanos haviam buscado refúgio.
Um vídeo do local mostrou um menino ferido sendo carregado dos escombros durante a noite. Um funcionário da defesa civil disse que duas pessoas nos andares superiores sobreviveram; as que estavam nos andares inferiores morreram e seus corpos ainda estavam nos escombros.
"Eles acharam que estariam seguros aqui. Eles vieram do bombardeio e da destruição e disseram que estariam seguros aqui, mas a destruição os perseguiu", gritou um homem.
O escritório de imprensa do governo do Hamas em Gaza disse que 18 palestinos cristãos foram mortos. Não há estimativa sobre o número total de mortos. O Patriarcado Ortodoxo disse que atacar igrejas usadas como abrigos para pessoas que fugiam dos bombardeios era "um crime de guerra que não pode ser ignorado".
O Exército israelense disse que parte da igreja foi danificada em um ataque a um centro de comando militante e que estava analisando o incidente.
Em Zahra, uma cidade ao Norte de Gaza, os moradores disseram que todo o seu distrito, com cerca de 25 prédios de apartamentos de vários andares, foi arrasado.
Eles receberam mensagens de alerta israelense em seus celulares na hora do café da manhã, seguidas dez minutos depois por um pequeno ataque de drone que reforçou a mensagem. Meia hora após o aviso inicial, aviões de guerra F-16 derrubaram os prédios em enormes explosões e nuvens de poeira.
"Tudo o que eu sempre sonhei e pensei que havia conquistado se foi. Naquele apartamento estava meu sonho, minhas lembranças com meus filhos e minha esposa, era o cheiro de segurança e amor", disse Ali, um morador do distrito, à Reuters por telefone, recusando-se a dar seu nome completo por medo de represálias.
O escritório de assuntos humanitários das Nações Unidas disse que mais de 140 mil casas – quase um terço de todas as casas em Gaza – foram danificadas, sendo que quase 13 mil foram completamente destruídas.
O Sul do enclave (que em geografia, refere-se a um território totalmente cercado por outro, com características políticas sociais e culturais distintas) também tem sido atingido regularmente. As autoridades de Gaza disseram que houve vários mortos e feridos em novos ataques a Khan Younis, a principal cidade do Sul de Gaza.
Enquanto as tropas israelenses se aglomeram em torno de Gaza, aguardando uma ordem de invasão, o conflito também está se espalhando para outras duas frentes -- a Cisjordânia e a fronteira norte com o Líbano.
O Ministério da Defesa ordenou que os moradores da maior cidade israelense próxima à fronteira libanesa, Kiryat Shmona, fossem retirados para casas de hóspedes. Os confrontos na fronteira entre Israel e o movimento Hezbollah do Líbano foram os mais mortais desde uma guerra total em 2006.
Na Cisjordânia, o Ministério da Saúde palestino disse que 13 pessoas foram mortas, incluindo cinco crianças, depois que as tropas israelenses invadiram e realizaram ataques aéreos no campo de refugiados de Nur Shams, perto de Tulkarm.
O território, onde os palestinos têm autodeterminação limitada sob a ocupação militar israelense, tem presenciado os confrontos mais mortais desde o fim da segunda revolta da Intifada em 2005.
Os diplomatas temem que o conflito possa se estender ainda mais. O Pentágono informou na quinta-feira que um navio de guerra da Marinha dos EUA que operava no norte do Mar Vermelho interceptou três mísseis de cruzeiro e vários drones lançados pelo movimento Houthi no Iêmen, potencialmente em direção a Israel.
Os Houthi, assim como o Hamas em Gaza e o Hezbollah do Líbano, são apoiados pelo Irã, que elogiou os ataques do Hamas contra Israel, embora negue estar por trás deles.
Até o momento, a maioria dos líderes ocidentais tem oferecido apoio à campanha de Israel contra o Hamas, embora haja um crescente desconforto com a situação dos civis em Gaza, que ainda não recebeu a ajuda há muito prometida.
"Não podemos ignorar a humanidade de palestinos inocentes que só querem viver em paz e ter oportunidades", disse Biden em seu discurso.
Israel disse que não permitirá que nenhuma ajuda de seu próprio território chegue a Gaza até que mais de 200 reféns capturados pelos homens armados do Hamas sejam libertados, uma posição que os palestinos dizem ser uma punição coletiva ilegal da população civil.
Biden garantiu uma promessa de Israel de permitir que alguma ajuda entre em Gaza pelo Egito, desde que seja monitorada para garantir que não chegue ao Hamas. Até o momento, os caminhões continuam parados no lado egípcio da passagem.
*É proibida a reprodução deste conteúdo