22/05/2023 às 23h32min - Atualizada em 23/05/2023 às 00h00min
Appio diz que 'não sabe de nada' sobre ter sido afastado da Lava Jato
Conselho do TRF-4 atendeu representação do desembargador Marcelo Malucelli e determinou afastamento imediato. Juiz é suspeito de ter feito ligação com tom de ameaça ao filho de Malucelli.
Conselho do TRF-4 atendeu representação do desembargador Marcelo Malucelli e determinou afastamento imediato. Juiz é suspeito de ter feito ligação com tom de ameaça ao filho de Malucelli. Eduardo Fernando Appio Reprodução/Justiça Federal O juiz federal Eduardo Appio, que foi afastado da 13ª Vara Federal de Curitiba após uma decisão do Conselho do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), disse ao g1 não saber de nada a respeito da determinação do colegiado. "Não sei de nada", afirmou. A decisão do Conselho do TRF-4 foi publicada nesta segunda-feira (22). Appio é suspeito de ter feito uma ligação telefônica ao filho do desembargador federal Marcelo Malucelli, João Eduardo Barreto Malucelli, com tom de ameaça. Leia mais abaixo. João é sócio do ex-juiz Sergio Moro. O pai dele, Marcelo Malucelli, se declarou suspeito para analisar casos que envolvem a Lava Jato em abril deste ano. Com a decisão, o Conselho do TRF-4 determinou: afastar imediatamente e preventivamente o juiz Eduardo Appio; suspender o acesso de Appio a prédios da Justiça Federal; suspender o acesso eletrônico de Appio a sistema da Justiça Federal a devolução de equipamentos eletrônicos usados pelo juiz federal, como desktop, notebook e celular funcionais. Appio assumiu o comando da 13ª Vara Federal de Curitiba, berço da Operação Lava Jato, no início de fevereiro. Ele tem mais de 20 anos de trabalho na Justiça Federal. Em entrevista ao g1 após assumir o cargo, o juiz disse ter como missões o resgate da credibilidade e da neutralidade político-partidária e o fim da espetacularização. No cargo, ele expediu decisões como a prisão do delator da Lava Jato Alberto Youssef e a anulação da condenação do ex-governador do Rio Sérgio Cabral por suposta propina em obras do Comperj. Ambos os casos foram revistos e anulados pelo TRF-4. O blog da Andreia Sadi revelou que aliados de Appio esperam que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) reverta a decisão. Representação A determinação do Conselho do TRF-4 atende a uma a representação feita por Marcelo Malucelli. Segundo a representação, João Malucelli recebeu uma ligação de um número bloqueado, sendo que a pessoa que fez a chamada se identificou como servidor da área de saúde da Justiça Federal, se apresentando como Fernando Gonçalves Pinheiro. Apesar disso, segundo a decisão, não existe nenhum servidor com o nome de Fernando Gonçalves Pinheiro na Justiça Federal da 4ª Região. Na ligação, o suposto servidor teria mencionado valores a devolver e despesas médicas de João Malucelli, "como se detivesse informações de cunho relevante, capazes de causar algum tipo de intimidação, de constrangimento ou de ameaça", segundo o relatório. O documento cita ainda que o suposto servidor teria questionado o sócio de Moro sobre se ele estaria "aprontando". O relatório do conselho aponta que há "muita semelhança entre a voz do interlocutor da ligação telefônica suspeita e a do juiz federal Eduardo Fernando Appio, tendo então a Presidência do TRF4 e a Corregedoria Regional noticiado esses fatos à Polícia Federal e solicitado realização de perícia para comparação do interlocutor da ligação suspeita com aquele magistrado federal". Em resposta, a Polícia Federal afirmou que "o resultado corrobora fortemente a hipótese" de que a voz era de Appio. Depois de o juiz apresentar sua defesa preliminar, a Corregedoria deve avaliar a abertura de um processo administrativo disciplinar contra Appio. Caso isso aconteça, a mesma corte que tomou a decisão desta segunda-feira terá que dar o aval. Entrevista ao Estúdio i Sigla de acesso LUL22 foi protesto contra prisão ilegal, diz novo juiz da Lava Jato Ao programa Estúdio i, da GloboNews, nesta segunda-feira, Appio confirmou que usou uma identificação eletrônica alusiva a Lula no sistema processual da Justiça. A sigla "LUL22", segundo ele, era um protesto individual contra a prisão ilegal do então ex-presidente. "Alguns anos atrás, quando o presidente Lula ainda estava preso, a minha sigla de acesso ao sistema da Justiça Federal era 'LUL22'. Na época eu trabalhava com matéria previdenciária e esse foi um protesto isolado, individual, contra uma prisão que eu reputava ilegal. E depois, de fato, o STF [Supremo Tribunal Federal] considerou a prisão ilegal", disse. No programa, Appio afirmou que a senha foi um "protesto isolado e individual", mas que não se identifica como petista. "Eu acho que o atual presidente Lula é uma figura histórica muito importante para o país. Erros e acertos [de Lula] vão ser julgados pela Justiça", disse. Representação de Moro Em 28 de março, a defesa de Sergio Moro protocolou um pedido de que Eduardo Appio se afastasse de qualquer decisão em processos da Lava Jato até uma apuração de suspeição. A ação foi protocolada pelo Ministério Público Federal (MPF) no dia 15 de março deste ano, conforme petição, mas não teve movimentação processual. VÍDEOS: tudo sobre política