A despesa com transportes diante da distância do deslocamento entre o local de moradia e a unidade universitária também contribui para o abandono dos bancos escolares. Outro fator que atinge mães e pais estudantes é a falta de creches próximas dos locais de estudo para deixarem os seus filhos enquanto estão em aulas.
Participaram da conversa a coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da UniRio (NEABI), professora Jane Santos; a estudante de pós-graduação Estefane Silva, que faz parte de coletivos de movimentos estudantis para a permanência de alunos negros nessa faixa de graduação, e a deputada estadual Renata Souza (PSOL-RJ), que atua na defesa de direitos humanos há mais de 12 anos com participação de movimentos sociais e proposição de políticas públicas no legislativo fluminense.
As dificuldades se estendem ainda aos efeitos da pandemia da covid-19. “A gente está em um cenário pós-pandemia de evasão muito grande dos universitários que passaram por ações afirmativas e são cotistas, por questão de precarização da vida mesmo. Entre fazer uma universidade, ter uma bolsa de estudos e seguir uma trajetória, muitos deles têm deixado a universidade para trabalhar para sobreviver e garantir o sustento da família”, apontou, em entrevista à Agência Brasil, a oficial de projetos da Oxfam Brasil e mediadora da roda de conversa, Bárbara Barboza (foto).
Como solução de parte dos problemas da evasão, o debate apontou ainda, segundo Bárbara Barboza, a implementação de uma busca ativa de estudantes e a visão integrada de políticas públicas.
“No sentido de que a gente possa pensar na construção de creches muito próximas ou dentro das universidades porque o contexto de universitários que são mães e pais é muito grande; e também no âmbito de saúde metal tendo em vista um alto índice de estudantes que têm tido depressão, ansiedade e suicídios da juventude negra, são políticas de acolhimento de saúde mental também”, ressaltou.
Mesmo com as dificuldades, de acordo com Bárbara Barboza, a quantidade de mulheres negras nas universidades públicas é a maioria entre gêneros do ponto de vista da permanência, incluindo o acesso até a pós-graduação. “As mulheres negras do Brasil têm, apesar dos percalços, uma qualidade educacional muito grande que confronta esse desafio que é de estar dentro do contexto da educação brasileira”, disse, acrescentando que a ascensão de mulheres negras nas universidades tem sido registrada ao longo dos últimos dez anos, período que coincide com a aplicação da Lei de Cotas.
“Mulheres como a Renata Souza, Jane Santos e como Estefane Silva são mulheres que, estando em movimentos e na pós-graduação nas universidades públicas, acabam gerando a permanência porque são muito articuladas. Isso é um grande ganho vindo de políticas de ações afirmativas”, observou.
A roda de conversas foi organizada pela Oxfam Brasil, sigla de Oxford Committee for Famine Relief (Comitê de Oxford para o Alívio da Fome), em uma parceria com o Instituto Afro-Latinas por meio do Festival Latinidades.
Considerado hoje o maior festival de mulheres negras da América Latina, o Latinidades foi criado em 2008 e neste período envolveu todas as regiões brasileiras e registrou crescente participação internacional com mais de 20 países. “Uma iniciativa continuada de promoção de equidade de raça gênero e plataforma de formação e impulsionamento de trajetórias de mulheres negras nos mais diversos campos de atuação”, revela o site do festival.