05/12/2023 às 13h34min - Atualizada em 06/12/2023 às 00h01min

Estudo quer fim do desmatamento legal para zerar gases estufa no país 

Chamada de meta net zero, medida sugerida em pesquisa da Universidade de Oxford diz que todos os gases que um país emitir devem ser compensados pelos gases que é capaz de absorver.

Brasil e Mundo
https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2023-12/estudo-quer-fim-do-desmatamento-legal-para-zerar-gases-estufa-no-pais




Acabar com o desmatamento legal e ilegal e investir na restauração da vegetação nativa em larga escala estão entre as medidas sugeridas por estudo da Universidade de Oxford, no Reino Unido, para que o Brasil chegue à meta de zerar a emissão líquida de gases do efeito estufa até 2050 – uma das obrigações assumidas pelo país diante do mundo para combater a crise climática



Chamada de meta net zero, ela define que todos os gases que um país emitir devem ser compensados pelos gases que ele é capaz de absorver, por exemplo, pela ação das florestas. Os gases do efeito estufa, como dióxido de carbono (CO²) e metano (CH4), são os responsáveis pelo aquecimento da terra.



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Para alcançar essa meta no Brasil, a pesquisa da Oxford afirma que a melhor forma é por meio de soluções baseadas na própria natureza. Já as soluções mais tecnológicas, como a captura de carbono na atmosfera, além de mais caras, não se adaptam completamente à situação brasileira, segundo os pesquisadores. 



No debate climático, o Brasil é considerado uma liderança em potencial por ter matriz elétrica em que 87% vêm de fontes pouco ou menos poluentes, como a biomassa, as hidrelétricas, a eólica e a solar. Mesmo com essa vantagem, o país é o sexto maior emissor absoluto de gases de efeito estufa do mundo, atrás apenas da China, dos Estados Unidos, da Índia, Rússia e do Japão.  



No caso brasileiro, o vilão não é a queima direta de combustível fóssil, mas o uso que o país faz da terra, com destaque para o desmatamento. Segundo a pesquisa, o uso da terra foi responsável por 46% das emissões de gases do efeito estufa em 2020, sendo 90% desse total causadas pelo desmatamento. O segundo principal vilão é o setor agropecuário, responsável por 25% das emissões de gases do aquecimento global.



“Enquanto no mundo você tem 75% das emissões vindas do setor de energia, no Brasil 75% vêm de setores ligados ao uso da terra e à agricultura”, destacou Aline Soterroni, pesquisadora brasileira lotada no Departamento de Biologia da Universidade de Oxford.  




05/12/2023- Dra. Aline Soterroni, cientista ambiental. OXFORD ESTUDO DESMATAMENTO. Foto: John Lynch/Divulgação

05/12/2023- Dra. Aline Soterroni, cientista ambiental. OXFORD ESTUDO DESMATAMENTO. Foto: John Lynch/Divulgação






A brasileira Aline Soterroni,  pesquisadora da Universidade de Oxford, no Reino Unido - Foto John Lynch/Divulgação



Desmatamento legal 



Diante desse cenário, a pesquisa afirma que o Código Florestal, caso fosse corretamente aplicado, seria capaz de reduzir as emissões líquidas em apenas 38% até 2050. Isso porque o estudo estima que o desmatamento legal, aquele permitido pelo Código Florestal, pode chegar a 32 milhões de hectares até 2050, uma área do tamanho do estado do Maranhão. Do total do desmatamento legal, quase metade (48%) deve ocorrer no Cerrado.  



“Vai ser muito difícil reduzir as emissões com a agricultura, vai ser muito difícil reduzir as emissões com a energia, então o potencial maior pro Brasil é realmente com o setor de uso da terra”, destacou Aline. 



A solução sugerida pelo estudo, calculada por meio de modelos matemáticos, é de um desmatamento zero, legal e ilegal, somado a um reflorestamento de 35 milhões de hectares. Com isso, a meta de net zero seria 62% cumprida.  



Agropecuária  



O estudo calculou ainda como ficaria a produção de carne bovina e de soja caso fosse adotada a sugestão de acabar com todo o desmatamento, aplicar corretamente o Código Florestal e reflorestar em larga escala. Afinal, a pesquisa calculou que, de 2019 a 2021, quase 98% das áreas desmatadas no Brasil foram diretas ou indiretamente impulsionadas pela agropecuária.  



Pelos cálculos matemáticos realizados, a produção de carne bovina poderia cair de 8% a 17% e a de soja de 3% a 10% até 2050, caso essas medidas sejam adotadas. Para Aline Soterroni, “é uma queda pequena frente aos serviços ecossistêmicos e proteção da biodiversidade que esse cenário vai proporcionar, que será importante para adaptação e resiliência às mudanças climáticas. O Brasil pode acomodar sua produção e continuar exportando com desmatamento zero”.  



A cientista ambiental brasileira acrescentou que é preciso ainda aumentar a produtividade, principalmente da pecuária que, no Brasil, ocupa extensas áreas para poucas cabeças de gado. Ao mesmo tempo que é um dos vetores do desmatamento, a agropecuária deve ser duramente afetada pelas mudanças climáticas.  



“A agricultura brasileira depende dos serviços ecossistêmicos da natureza, afinal 90% da agricultura do Brasil não são irrigados, ela depende da água da chuva. Portanto, é fundamental manter o equilíbrio dos ecossistemas para o próprio futuro da agricultura brasileira. Para isso, é estratégico acabar com o desmatamento e não há necessidade de desmatar para continuar produzindo”, explicou.  



Aline lembrou que o Brasil ainda não incluiu a meta de zerar as emissões líquidas de gases do efeito estufa até 2050 nos planos e legislações nacionais. “Você precisa de um plano com metas intermediárias, com metas de emissões de cada setor e monitorar isso com ambição”, concluiu. 




Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2023-12/estudo-quer-fim-do-desmatamento-legal-para-zerar-gases-estufa-no-pais
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