Projeto desenvolvido por doutora em nutrição e universidades federais contou com apoio da Associação Nacional das Pessoas com Nanismo (Nanismo Brasil)
Utilizado como regra para medir a relação peso X altura, o Índice de Massa Corpórea (IMC) não é adequado para pessoas com nanismo. O grupo, que possui pouca literatura à disposição, enfrenta, desde a infância, dificuldades em entender como ter uma alimentação saudável que auxilie no controle de peso, previna doenças crônicas e melhore a qualidade de vida. De olho em uma parcela da população que sequer está contabilizada no país, a doutora em nutrição Ursula Viana Bagni coordenou a publicação do e-book “Alimentação saudável para pessoas com nanismo”, agora disponível gratuitamente para download. Ursula é professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e líder do Grupo de Estudos sobre Diversidade e Inclusão em Nutrição e Saúde (GEDINS). A publicação, entretanto, conta ainda com a realização da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e apoio da Associação Nacional das Pessoas com Nanismo (Nanismo Brasil). O livro tem como público além das pessoas com nanismo, familiares e profissionais de saúde e traz informações para todas as idades, incluindo crianças. Presidente do Nanismo BR, Fernando Vigui explica que no 1º encontro da associação, em 2019, a questão começou a ser discutida durante um painel sobre qualidade de vida. Depois disso, Fernando encontrou o GEDINS e no ano passado, a nutricionista participou do encontro que foi virtual em razão da pandemia do coronavírus (SARS-CoV-2). “A Úrsula esteve no encontro virtual e deu início ao projeto. Foi incrível e a comunidade toda participou dando depoimentos, respondendo formulários, contribuindo com experiências e conseguimos, finalmente, lançar o e-book”, completa Vigui. A professora universitária trabalha há alguns anos com nutrição de subgrupos populacionais em maior situação de vulnerabilidade em saúde. Neste sentido, tem desenvolvido atividades de ensino na graduação e pós-graduação e também pesquisas e projetos de extensão. Ela conta que nos últimos anos começou a se aproximar da temática do nanismo e percebeu a escassez de material para ser usado na universidade e também para servir de subsídio para os profissionais já formados. “O livro foi planejado para ser bem objetivo, de leitura rápida e tentamos abordar todos as fases da vida. O planejamento e elaboração do livro foi feito em parceria com o Nanismo Brasil, que foi essencial para nos ajudar a desenvolver um material alinhado às necessidades das pessoas com nanismo”, acrescenta. IMC “O Cálculo IMC sempre dá pra gente obesidade mórbida e não nos encaixamos nos gráficos. Já vimos também pessoas com nanismo que seguem algumas dietas, mas não conseguem emagrecer, por exemplo”, explica o presidente da Associação Nacional das Pessoas com Nanismo. A professora ressalta, entretanto, que o objetivo não é fornecer informações específicas porque entende que cada pessoa com nanismo possui singularidades que precisam ser consideradas pelo profissional de saúde. “Inclusive a questão do IMC, que é muito debatida, foi um tema que não nos aprofundamos propositalmente pois a avaliação do estado nutricional e da composição corporal da pessoa com nanismo é extremamente muito complexa. O IMC não é adequado para a pessoa com nanismo, conforme falamos no livro, e precisa ser usado com muita cautela pois não reflete bem a composição corporal e o risco de doenças crônicas em adultos com nanismo”, finaliza Ursula. Energia Doutora em nutrição, Ursula Viana diz que uma das principais evidências até o momento está na necessidade de energia, que é menor que a de uma pessoa com estatura mediana. Ocorre que esta diferença também não está se apresentando homogênea e uma nova pesquisa pretende responder a essa questão: quantas calorias uma pessoa com nanismo precisa? “O que sabemos é que, como a pessoa com nanismo necessita de menos calorias diárias e que seu corpo está ‘programado’ para acumular mais gordura em função da alteração genética. Por isso, o controle da alimentação é essencial. É necessária uma vigilância constante, pois mesmo que o peso em excesso não resulte em doença crônica, ele pode agravar problemas articulares e resultar em dor e prejuízo na mobilidade”, explica. Orientação geral A orientação geral é que a composição da dieta e os alimentos a serem consumidos não sejam diferentes do restante da população. Todos devem seguir as orientações do Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado pelo Ministério da Saúde e quanto tiverem alguma condição de saúde que demande uma atenção maior, que a pessoa procure um nutricionista. Para fazer o download é só clicar aqui: https://linktr.ee/