Há um ano, no dia 12 de março, Goiás teve diagnosticados seus primeiros casos de covid-19: duas mulheres em Goiânia e uma em Rio Verde. No mesmo dia, o governador Ronaldo Caiado declarou, em decreto, emergência de saúde pública no Estado. Um ano depois, o cenário, que pareceu se acalmar entre setembro e novembro de 2020, voltou a ser de crítico a calamitoso e medidas mais restritivas estão sendo tomadas pelo Estado e pelas prefeituras desde o final de fevereiro. O foco é tentar evitar o colapso do sistema de saúde. Superintendente de vigilância em saúde da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), Flúvia Amorim enfatiza que a situação atual "é gravíssima", até mais do que já se viveu até aqui. “Quando vamos comparar, temos vários indicadores. O que mais chama a atenção hoje é a taxa de ocupação de leitos. Mesmo nos piores momentos da pandemia no ano passado, não chegamos perto da ocupação de agora”, afirma.
Superintendente de vigilância em saúde da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), Flúvia Amorim (Foto: divulgação) O cenário ainda não é chamado de colapso do sistema de saúde, segundo ela, porque o termo se referiria à situação em que a pessoa não consegue assistência quando procura uma unidade de saúde. “Hoje, as pessoas ainda conseguem assistência. Às vezes, não conseguem leito de UTI, mas conseguem enfermaria ou sala de reanimação. Nossa preocupação é que daqui a pouco pode acontecer de não ter mais”, explica Flúvia. A preocupação se torna maior porque já se considera a possibilidade de uma terceira onda da doença. “Da mesma forma que tivemos essa segunda onda, muito em fator do surgimento de variantes novas, além da ocorrência de aglomerações, podemos ter uma terceira vez”, avalia a superintendente. Cenário que exigiria ainda mais das redes pública e privada de saúde e poderia vitimar proporção ainda maior da população. Até o momento, já são mais de 426 mil casos confirmados de covid-19 em Goiás, que soma mais de 9 mil mortes causadas pela doença. A taxa de letalidade, segundo o último boletim epidemiológico divulgado pelo Estado, é de 2,19%. Só na última quarta-feira (10/3), foram registradas 267 mortes por complicações provocadas pela covid-19 em Goiás - recorde no número de óbitos pela doença em 24 horas. Um dia antes, o Painel Covid-19 da SES-GO chegou a indicar taxa de ocupação de leitos de UTI destinados a pacientes com a covid-19 em hospitais públicos e particulares acima de 100% - o que voltou a ocorrer na tarde desta quinta (11/3).
(Foto: Agência Brasil)
Distanciamento e vacina Flúvia Amorim considera que a única forma de evitar uma terceira onda da covid-19 e impedir o colapso dos sistemas de saúde é se Goiás conseguir diminuir a transmissão da doença. As formas possíveis para que isso aconteça são: distanciamento social ou vacinação. “Considerando as informações que temos de vacinas hoje, dificilmente nós conseguiríamos imunizar 70% da população antes do final ano”, considera. Até o momento, a vacinação contra a doença chegou a apenas 3,6% dos goianos: cerca de 252 mil já receberam a primeira dose e só cerca de 68 mil tomaram a segunda. Para diminuir a pressão sobre os serviços de saúde, segundo Flúvia, na impossibilidade de vacinar 70% da população, seria preciso, pelo menos, vacinar 100% dos idosos e das pessoas com comorbidades. “Com essa vacinação de todos os idosos e pessoas com doenças crônicas, conseguiríamos diminuir pelo menos os casos que precisam de hospitalização.”
Vacinação contra a covid-19 chegou a apenas 3,6% dos goianos (Foto: Secom de Aparecida de Goiânia) Sem a perspectiva real de alcançar os índices necessários de pessoas vacinadas, o que pode contribuir para diminuir a transmissão da covid-19 é que as pessoas mantenham o distanciamento social. Flúvia afirma que essa tem sido uma grande dificuldade hoje, porque a adesão da população às medidas restritivas tem sido baixa, mesmo com a publicação de decretos estaduais e municipais limitando as atividades econômicas. No final de fevereiro, o governador Ronaldo Caiado anunciou que março seria o pior mês da pandemia. Os números de taxa de ocupação nos hospitais e de novos casos e mortes em decorrência da doença bateram recordes e comprovaram a afirmação. Flúvia afirma que a única solução é diminuir a transmissão. “As pessoas falam que precisa ampliar leitos, mas existe uma limitação de recursos humanos, de equipamentos, de estrutura (…) E mesmo tendo acesso a leitos, o que os dados mostram é que é preciso fechar a torneira, isto é, diminuir a transmissão.”
Pandemia em Goiás 12/3/2020: Primeiros casos Duas mulheres em Goiânia e uma em Rio Verde são diagnosticadas com covid-19.
13/3/2020: Lockdown Governo de Goiás decreta situação de emergência na saúde pública do Estado e restringe atividades que gerassem aglomeração de pessoas, com exceção das essenciais.
26/3/2020: Primeira morte Mulher em Luziânia é a primeira a morrer em Goiás em decorrência da covid-19.
19/4/2020: Flexibilização Novo decreto flexibiliza distanciamento social e abre novas permissões para as atividades comerciais.
30/6/2020: Revezamento
Governo de Goiás decreta quarentena intermitente, com revezamento do funcionamento das atividades econômicas.
8/7/2020: Calamidade
Governador Ronaldo Caiado decreta estado de calamidade pública em Goiás, em decorrência da pandemia de covid-19.
27/7/2020: Retomada
Funcionamento das atividades econômicas é mantido após um mês do revezamento proposto em junho, encerrado no decreto publicado nesta data.
30/11/2020: Funcionalismo
Governo de Goiás decreta retorno dos funcionários públicos que não fazem parte dos grupos de risco ao trabalho presencial.
7/1/2021: Prorrogação
Em decreto, Estado prorroga situação de emergência na saúde pública por causa da pandemia do coronavírus até 30/6/2021.
18/1/2021: Vacinação
É iniciada a vacinação de profissionais de saúde e idosos em Goiás.
8/2/2021: Variante
Presença de nova cepa do coronavírus em Goiás é confirmada por exames.
26/2/2021: Restrição
Decreto estadual restringe comércio de bebidas alcoólicas em Goiás.
27/2/2021: Decretos
Prefeituras da Região Metropolitana de Goiânia e Governo de Goiás publicam decretos com adoção de medidas restritivas, permitindo apenas atividades essenciais.
10/3/2021: Recorde
Goiás tem 267 mortes por covid-19 registradas em 24 horas (maior número diário desde o início da pandemia).